Uma das grandes surpresas de 2020 dentro da fantasia nacional foi Máscara Para Os Mortos, primeiro volume da saga A Ruína de Noltora. Agora, o escritor M. P. Neves dá continuidade à sua dark fantasy com Asas Sob o Abismo e vai um passo adiante dentro desse universo complexo e cercado de perigos.

No segundo livro, encontramos Hakim, o Deus-Rei de Var Khalad, defendendo o reino inteiro sozinho após eliminar seus altos sacerdotes. O peso da guerra contra os abissais ameaça destruir tudo pelo que o jovem soberano lutou, mas ele pretende fazer o que for necessário para aguentar até o fim. Enquanto isso Moira lidera seu próprio bando de bárbaros rumo às fronteiras do império. À medida que ela avança, seu poder necromântico floresce e as sombras inquietas que ela carrega consigo clamam por vingança. O encontro iminente dos rivais promete abalar as fundações de Noltora para sempre.

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A fórmula que conquistou os leitores no volume um se mantém aqui: a narração fluida de M. P. Neves com descrições simples e objetivas que formam as imagens nitidamente na imaginação. Se valendo disso, o autor prossegue com a construção de seu mundo fantástico explorando mais detalhes sobre a Devastação que caiu sobre Noltora e revelando aos poucos que nem todas as histórias contadas são verdadeiras. Também descobrimos um pouco mais sobre o funcionamento da taumaturgia e como esse singular sistema de magia funciona. Já no lado oposto, temos noção do potencial arrasador da necromancia em seu auge.

Mas apesar de todos os elementos sobrenaturais, o que se destaca em Asas Sob O Abismo é o fator humano. Vemos Hakim muito além das máscaras que cobrem seu rosto enquanto veste a armadura do Deus-Rei. Ele é apenas um homem lutando por aquilo que acredita, disposto a aceitar o fardo que lhe aguarda para salvar seu povo. Já Moira não é mais aquela menina raivosa que iniciou a jornada por vingança. A raiva continua ali, mas direcionada para um único objetivo conforme a jovem necromante amadurece e assume os riscos para realizar seu desejo. Sev, o ladrão de túmulos, também tem um arco de desenvolvimento relevante para a trama, contudo o mesmo não pode ser dito a respeito de seu irmão, Morsov, que não foi tão bem aproveitado, infelizmente.

…a vingança nunca serviu para devolver nada a ninguém. Seu propósito é nivelar as coisas por baixo, causar tanto mal quanto se sofreu, multiplicar a dor.”

Mais uma vez os capítulos vão se alternando entre os pontos de vista dos protagonistas, só que além de apresentar situações e cenários diferentes, agora também apresentam visões distintas sobre o mesmo acontecimento. Isso mostra que não existe um lado bom e outro mau, somente objetivos conflitantes.

Em se tratando das cenas de ação e batalha, nesse livro temos um salto de qualidade se comparado ao anterior. Duas sequências em particular – uma que se passa dentro de uma estalagem e a outra fora das muralhas da cidade – são tão empolgantes que lemos vidrados até chegar ao fim. Dentro da fantasia nacional, certamente são duas cenas memoráveis tanto pela criatividade quanto pela agilidade na narração.

Pela inovação e originalidade dentro do gênero, A Ruína de Noltora já tem seu lugar dentro da literatura fantástica brasileira. Asas Sob O Abismo pega o que já era bom dentro da saga e consegue deixar ainda melhor. E quando achamos que está tudo prestes a se resolver já no segundo volume, vem uma revelação surpreendente que nos dá uma breve ideia do que iremos encontrar no terceiro livro, Nêmesis na Necrópole. Agora só nos resta aguardar.

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Mozer Dias

Engenheiro por formação, mas apaixonado pelo mundo da literatura e do cinema. Se eu demorar a responder, provavelmente estou ocupado lendo ou assistindo a um filme.

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