Como muitos já sabem, o mês de julho teve uma data especial para os americanos na qual se comemora O Dia da Independência. Graças a este fato, torna-se oportuno observar alguns exemplos de como o patriotismo desta potência mundial é abordado nas histórias em quadrinhos de grandes editoras. Algumas  destas histórias e personagens estão intimamente ligadas a esta questão de forma direta ou indireta. Em outras palavras, super-heróis que vestem o vermelho e azul, sagas que lidam com os efeitos de tragédias que abalaram os EUA e até adaptações cinematográficas que reforçaram o orgulho patriótico.

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Criado por Joe Simon e Jack Kirby em 1941, o Capitão América é o exemplo mais claro desta questão. Em suas primeiras histórias, combateu os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial e serviu como incentivo para as tropas na luta contra o Eixo. Não é a toa que a capa da primeira edição de sua revista é a que mostra o supersoldado socando Hitler, momento esse que foi referenciado em Capitão América – O Primeiro Vingador. Já nesta publicação percebia-se o poder de um ícone que certamente ficaria marcado pelo tempo e que também corria o risco de ficar datado após o fim da guerra.

Inclusive, este é um dos motivos pelo qual o alter-ego de Steve Rogers precisou ser sempre reinventado. Quem acompanha suas histórias ou as polêmicas sobre elas, sabe de quantas vezes ele já desistiu do escudo e foi substituído por outro personagem. Dois exemplos bem interessantes e recentes sobre estas trocas merecem atenção: Sam Wilson e o “Capitão Hydra”. Outrora conhecido como Falcão, Wilson foi escolhido por Rogers para ser o novo Capitão América. Para muitos leitores, esta substituição rendeu boas histórias e permitiu que os roteiristas abordassem temas relevantes como o racismo já que muitos americanos simplesmente não aceitavam um homem negro como seu principal herói. Infelizmente, mesmo sendo uma boa ideia o personagem não ficou muito tempo nesta posição.

Falando em mudanças polêmicas, uma que com certeza impactou o mundo dos quadrinhos foi a do Capitão América como membro da Hidra. Conhecida nos quadrinhos Marvel como uma facção nazista comandada pelo Caveira Vermelha, a organização e seu líder sempre foram a principal ameaça do herói em suas histórias. Por esse motivo, colocar ele como um agente secreto da mesma chocou vários leitores ao redor do mundo. Mas como já era de se esperar, foi algo temporário assim como as promessas de toda e qualquer megassaga dos quadrinhos das grandes editoras.

Outra grande personagem que não pode ser esquecido neste contexto é o Superman. O super-herói nascido em Krypton e criado em nosso planeta representa (entre outras coisas) o imigrante que adotou os Estados Unidos como seu lar. Pode-se dizer que o surgimento dele serviu como injeção de animo ao povo americano após a quebra da bolsa em Nova York e da Grande Depressão que surgiu logo em seguida. Um ser com superpoderes, incapaz de errar e que defendia os mais fracos era uma resposta escapista à situação daquele periodo. Devido ao seu sucesso, ele se tornou um produto globalizado que carrega as cores da bandeira americana e representa fortemente seus ideais há 8 décadas.

Em Superman – Entre a Foice e o Martelo, temos uma clara resposta do que aconteceria se o homem de aço tivesse uma origem totalmente diferente daquele que conhecemos desde sempre. Na trama, a nave kryptoniana que trouxe Kal-El a terra cai em uma fazendo coletiva na União Soviética. Desse modo, temos uma releitura de um dos maiores super-heróis dos quadrinhos que neste caso é o garoto-propaganda dos ideais comunistas. Mesmo sendo uma graphic novel com uma história independente, a sua leitura vale como experiência de imaginação e oportunidade de enxergar o Superman como mais um personagem que dificilmente se desvencilha do espectro ideológico.


Assim como o último filho de Krypton, o Homem-Aranha também veste o vermelho e azul em seu uniforme. Porém, no caso do escalador de paredes não há como relacionar ele diretamente à questões nacionalistas apenas simplesmente pela questão visual. Com este personagem, a questão patriótica fica por conta de exemplos pontuais em cenas de seus filmes em que o mesmo se torna um herói amado e protegido pelo povo como nos filmes estrelados por Tobey Maguire. Um detalhe que passou batido pelos fãs do personagem já que em suas HQs ele sempre foi rejeitado pelas pessoas que jurou proteger. Por se tratar de uma produção lançada após os atentados às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001, a adaptação acabou se tornando uma solução escapista.

Ainda sobre os efeitos desta tragédia nos quadrinhos, vale lembrar que o debate sobre segurança x liberdade inspirou uma das sagas mais elogiadas da Marvel nos últimos anos: Guerra Civil. Na história, um trágico acidente causado por um grupo de heróis acaba servindo de motivo para a aprovação da Lei de Registro de Super-Humanos. Imposta pelo governo, a mesma obrigava que todos os heróis uniformizados revelassem suas identidades além de serem supervisionados pelo Estado. Com isso, a comunidade super-heroica divide-se entre aqueles que apoiam a Lei, liderados por Tony Stark; e os que são contra, liderados pelo Capitão América.

Mesmo tendo sido lançada em 2006, Guerra Civil ainda continua sendo lembrada por sua qualidade no roteiro. É um claro exemplo de como refletir a realidade em um mundo de seres superpoderosos que usam máscaras e combatem o crime sem autorização legal. Não só isso como também se trata de uma critica à forma inconsequente que os EUA utilizam seu imenso poder bélico como solução final em tempos de crise. No cinema, em Capitão América – Guerra Civil tivemos uma versão desta mesma história mas com algumas adaptações necessárias para dar mais realismo à trama.

 

Enfim, personagens icônicos de grandes editoras sempre serão produtos de consumo em massa e também de dominação cultural. Isto, é claro, nada mais é do que uma consequência de um mudo capitalista globalizado. No entanto, há outras formas de olhar para isso pois há o espaço para a autocritica como puro exercício da imaginação e reflexão sobre questões politicas relevantes. Por estes motivos, é que os exemplos comentados neste artigo são apenas alguns dentre vários quando o assunto é patriotismo americano nos quadrinhos.

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Olhar Literário é uma coluna escrita por Marcus Alencar. Marcus é redator no site Leituraverso e um dos hosts do podcast Leituracast

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Marcus Alencar

"Palavras importam! Uma morte, uma ondulação e a história mudará em um piscar de olhos"

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