Spoiler: Este texto contém spoilers da 13ª temporada e do especial de Ano Novo de Doctor Who

Existem várias palavras que podem descrever o que é Doctor Who. Mudança, renovação e ousadia estão entre as opções que melhor se encaixam seja para o bem ou mal da série. Uma prova da parte má disso está justamente no que tem acontecido na Era da 13ª Doutora, um assunto que se torna ainda mais importante com a certeza da iminente saída dela. Por outro lado, há a certeza da chegada de um novo showrunner que é um velho conhecido do público, o que desperta ansiedade e animação ao mesmo tempo.  

Com todas essas cartas na mesa, fica aberto o convite para uma viagem no tempo através desse artigo. Mais do que isso, essa também é uma oportunidade para refletir sobre o passado recente e compartilhar expectativas sobre o futuro de Doctor Who. 

Começando por uma sequência linear, nossa primeira parada no tempo se localiza no segundo semestre de 2020. Foi quando ocorreu a exibição da 13ª temporada que recebeu o título de Doctor Who: Flux. Composta por 6 episódios unidos em um único tema e com um formato parecido com os arcos da Era Clássica (1963-1989), Flux criou um sentimento de empolgação constante ao fim de praticamente cada episódio. Infelizmente, esse sentimento não durou graças ao encerramento decepcionante dessa grande história. 

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Nesse artigo você encontrará:

 

O retorno de ameaças antigas em episódios marcantes

Deixando a decepção de lado, vamos falar sobre os aspectos positivos como por exemplo War of the Sontarans (S13E02), um dos melhores episódios de Doctor Who: Flux que trouxe de volta os monstros com “cara de batata” que sempre foram retratados como idiotas sedentos pela guerra mas dessa vez de uma forma diferente. Esse foi o caso do Comandante Skaak (Jonathan Watson) que demonstrou ser perigoso e calculista em alguns momentos, um detalhe que também foi bem aproveitado em The Vanquishers (S13E06) mostrando que o personagem além de interessante tem potencial para render boas histórias nas próximas temporadas caso retorne de alguma forma.

Outro ponto interessante está nas referências do episódio. Em um dos momentos finais o General Logan (Gerald Kyd) explode uma base dos Sontarans, o que desperta a revolta na Doutora que faz um comentário parecido com o do 10º Doutor (David Tennant) nos minutos finais de The Christmas Invasion (S02E00).  Outro momento parecido ocorreu no arco “Doctor Who & The Silurians” em que 3º Doutor (Jon Pertwee) negociou um acordo de paz entre a humanidade e os Silurians, seres que emergiam da superfície da Terra prontos para reivindicar o planeta para si. Depois de sair da base deles o Brigadeiro (Nicholas Courtney) comete genocídio ao explodir o local sem pensar duas vezes. Uma ação que certamente despertou a ira do Senhor do Tempo e um descontentamento com seu aliado da UNIT.

Como se isso não fosse o bastante, ainda há mais um link com o passado da série.  No primeiro encontro da Doutora com Skaak ele cita o Comadante Linx (Kevin Lindsay), o primeiro Sontaran a investir contra a Terra. Isso aconteceu no arco “The Time Warrior”, quando o 3º Doutor e Sarah Jane Smith (Elisabeth Sladen) viajam para o período da Idade Média.

Aquele momento em que um Sontaran faz uma referência

Em Village of the Angels (S13E04) os Weeping Angels voltaram em uma história bem equilibrada entre o suspense e a ação. É sem sombra de dúvida o melhor episódio com os monstros ficando atrás apenas de Blink (S03E10) por questão de apenas alguns detalhes, algo que merece ser comentado em outra oportunidade. Os motivos para exaltação são vários. O primeiro destaque fica para o uso dos efeitos especiais como na cena em que a Doutora queima um desenho e logo em seguida aparece um Weeping Angel em chamas ao escapar do papel de forma parecida com uma projeção cinematográfica. Outro momento marcante tanto nessa parte técnica como no conceito está quando Peggy (Poppy Polivnick) em 1901 interage com sua versão mais velha em 1967 conhecida como Mrs. Hayward (Penelope McGhie) em uma cena em que podemos ver as linhas do tempo divididas. A última observação, dentre várias que poderiam ser feitas, está na introdução de personagens carismáticos e interessantes como é o caso de Claire Brown (Annabel Scholey) e do Professor Eustacius Jericho (Kevin McNally, que também interpretou um personagem no arco The Twin Dilemma em 1984)

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Melhor dupla? Sim ou claro?

Eles são engraçados, espertos, se odeiam, mas nem tanto. Esses são Dan Lewis (John Bishop) e Karvanista (Craige Els), dois personagens que conhecemos e gostamos logo de cara em The Halloween Apocalypse (S13E01), algo que felizmente não mudou nos outros episódios. Inclusive, é uma pena que eles não vão permanecer juntos na TARDIS por enquanto. No entanto, apesar da separação dessa dupla que funciona muito bem fica a esperança que o Karvanista retorne em algum momento seja em Doctor Who ou em outros projetos.

Os melhores personagens de Doctor Who: Flux

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Personagens do tipo “Gordura Narrativa”

A expressão que dá título para esse tópico serve justamente como forma de “homenagear” a introdução de novos personagens responsáveis por um acumulo desnecessário de espaço na trama de Flux. Por uma questão de justiça os menos piores nesse quesito serão apresentados:

Vinder (Jacob Anderson) e Bel (Thaddea Graham) formaram um casal considerado “fofo” para alguns fãs enquanto se tornaram alvo de especulação para outros sobre eles serem os pais da Doutora, algo que felizmente não se concretizou. Os dois tem um certo carisma, mas são desenvolvidos de uma forma preguiçosa e rasa pelo roteiro. Apesar disso, tiveram alguma utilidade em poucos momentos, mas nada demais. Vão sem deixar muita saudade.

Vinder e Bel, o casal que foi vítima do “jeito Chibnall “

Diane (Nadia Albina) e o novo inimigo conhecido como Prentis/A Grande Serpente (Craig Parkinson) estão em uma categoria bem abaixo disso. Ela que parecia ser um suposto interesse romântico do Dan, algo que não vingou, não acrescentou muito a trama e ainda protagonizou um momento sem sentido quando se despediu dele no último episódio. Já a nova ameaça chegou na hora errada e foi claramente ofuscada por Azure (Rochenda Sandall) e Swarm (Sam Spruell) que foram mais importantes na temporada, apesar do desenvolvimento igualmente raso. Parece contraditório, mas é apenas o Chibnall sendo ele mesmo.

De um lado um personagem desnecessário e do outro também

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Desperdiço de uma boa personagem

Não é erro dizer que talvez a única utilidade que A Grande Serpente teve no final das contas foi trazer Kate Stewart (Jemma Redgrave) de volta junto com uma explicação do porquê do sumiço dela e da UNIT, algo que ficou muito mal explicado em Spyfall: Part One (S12E01). Apesar disso, a personagem foi muito mal utilizada e teve uma interação bem fraca com a Doutora. Fica a esperança para que retorne durante a nova fase comandada por Russel T. Davies ou talvez em outro projeto solo.

Ela está de volta, apesar do desperdício

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Respostas importantes, perguntas em aberto

De todas as várias explicações do roteiro as mais importantes foram dadas pela Tecteun em Survivors of the Flux (S1305) sobre o Fluxo e a Divisão. Por outro lado, ainda é muito pouco já que há mais questões que ficaram em aberto. Ainda não sabemos quem foi a Doutora durante o tempo em que trabalhou para a Divisão, quantas regenerações teve nesse período e de onde veio realmente. Talvez, nesse último caso, isso permaneça um mistério assim como o seu nome.

Ainda sobre esse episódio, vale um comentário a parte sobre o momento em que a “mãe” da Doutora cita a existência do multiverso enquanto está apresentando o quadro geral do seu plano. Nesse sentido, vale lembrar que o conceito de universos paralelos já foi abordado em Doctor Who. A primeira vez foi no arco “Inferno” quando o 3º Doctor foi jogado em um universo paralelo quando tentou consertar sua TARDIS. Na Era Moderna, o mesmo aconteceu em Rise of the Cybermen (S2E05) e The Age of Steel (S2E06) quando o 10º Doutor (David Tennant), Rose Tyler (Billie Piper) e Mickey Smith (Noel Clarke) chegam por acidente em um universo paralelo em que o pai de Rose está vivo e a versão alternativa de Mickey se chama Rickey. 

As primeiras explorações de universos alternativos causadas por acidente

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Terceiro especial de Ano Novo com Daleks

Para a surpresa de exatamente 0 pessoas o especial de Ano Novo foi com os Daleks. Depois de Resolution (S11E12) e Revolution of the Daleks (S13E00) já era esperado que isso acontecesse novamente, o que comprovou a preguiça do Chibnall em não sair do lugar comum que ele mesmo criou na série. Por outro lado, justiça seja feita já que Eve of the Daleks (S13E07) conseguiu a façanha de finalmente ser um episódio bom em sua execução mesmo sendo apenas uma história no melhor estilo “Feitiço no Tempo” (1993).

 

Russel T. Davies, próxima regeneração e a possibilidade de um novo universo compartilhado

Para alegria de todos os fãs, ele vai voltar. Responsável pelo retorno de Doctor Who em 2005, RTD retornará ao comando da série no especial de 60 anos da BBC que marcará a despedida da 13º Doutora e o início da próxima regeneração. Até o momento, as possibilidades indicam que o futuro showrunner manterá uma mulher como protagonista. Inclusive, já existem rumores de quem pode ser a atriz escolhida: Lydia West. Além de já ter trabalhado com o próprio Russel em papéis de destaque nas séries Years and Years (2019) e It´s a Sin (2021), ambas comandadas por ele, ainda há o fato da própria Jodie em um programa da BBC Radio 1 ter sugerido que escolheria ela como substituta caso tivesse o poder de decisão. (Citação a partir do minuto 5:50)

Além disso, outro assunto importante relacionado à Russel T. Davies merece ser comentado: a criação (ou seria retorno?) de um universo compartilhado de Doctor Who. Em janeiro de 2021 uma matéria da Rádio Times deu destaque para os comentários feitos por ele sobre o potencial da série em utilizar a mesma estratégia de Star Wars, Star Trek e Marvel Studios. Ele inclusive relembra seus antigos projetos, os spin-offs Torchwood (2006-2011) e The Sarah Jane Adventures (2007-2020), que em algum momento cruzaram com a série principal. Inclusive, vale observar que essas duas séries datam de alguns anos antes do nascimento oficial do Universo Cinematográfico da Marvel com Homem de Ferro (2008).

O universo compartilhado de Doctor Who, por Russel T. Davies

 

Outra notícia relacionada a essa questão que merece destaque é que a Sony adquiriu a produtora Bad Wolf que novamente será responsável pela produção da série. O que isso significa? Mais investimento e possibilidades de uma projeção cada vez mais ampla. Inclusive, vale lembrar que o estúdio já investe em um projeto de universo compartilhado através das produções que adaptam personagens das histórias do Homem-Aranha.

Pensando nessa declaração e no retorno dele nada impede que novas produções sejam criadas em uma escala maior. Caso ele aproveite alguma coisa da Era Chibnall seria interessante algo que envolvesse A Divisão, Karvanista e o passado da “Doutora Fugitiva” (Jo Martin) seja em uma mesma série solo ou não.

Outra opção interessante seria uma série sobre a UNIT tendo Kate Steawart como protagonista, Osgood (Ingrid Oliver) e participações especiais de personagens da clássica como o sargento Benton (John Levene) e companions da moderna. Mesmo que isso esteja longe de acontecer vale lembrar que a atual Líder da Unit já tem seu lugar no universo expandido da série. Esse é o caso do audiodrama UNIT: Nemesis que traz um elenco diversificado de integrantes da organização, incluindo rostos novos e um já conhecido do grande público:

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O FIM….por enquanto.

O melhor de tudo isso é que a fase atual está próxima de acabar e o futuro que se avista no horizonte parece promissor. Por um lado, é triste ver a 13ª Doutora se despedindo em um momento no qual grande parte do público critica os episódios protagonizados por ela. No entanto, isso não muda o fato de que apesar do um comando falho do showrunner atual Jodie Whittaker entregou um trabalho marcante do que merece ser lembrada. Em breve, seu tempo chegará, mas nada fará com que ela seja esquecida na memória de cada fã.

Fontes e links relacionados:

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Marcus Alencar

"Palavras importam! Uma morte, uma ondulação e a história mudará em um piscar de olhos"

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