Lançado como a grande promessa de 2021, 86 (Eighty-Six) teve 12 episódios em sua primeira temporada. Contando com excelente animação, enredo fora dos padrões e um futuro distópico, o anime produzido pelo estúdio A-1 Pictures alcança um debate elegante sobre supremacia e humanidade com uma narrativa interessante que brinca com a capacidade de ligar os pontos do espectador.

Com o súbito ataque do exercito do império inimigo, a Republica dos 85 distritos (San Magnólia) foi forçada a tomar atitudes e desenvolver armas capazes de lutar contras os Legions, veículos militares não tripulados que foram enviados para atacar o país. Por mais que a Republica dos 85 distritos diz fazer uma guerra limpa de sangue, onde também não envia soldados para combater os Legions, em verdade existe o 86º distrito, uma área omitida da população, que é usada constantemente na guerra e seus habitantes como armas descartáveis.

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86 (Eighty-Six) começou como uma série Light novel escrita por Asato Asato e ilustrada por Shirabii. Uma adaptação do mangá com arte de Motoki Yoshihara foi serializada na revista Young Gangan da editora Square Enix desde fevereiro de 2018. Como de praxe das produções que se originam em light novel, 86 (Eighty-Six) tem uma temática mais adulta, porém aqui não temos o “ecchi” que também é bem comum nestas obras em geral (mesmo com o uniforme de cinta-liga do exército de San Magnólia). O trabalho de produção e animação do A-1 Pictures é acima do padrão, criando um anime com uma arte linda e animação muito fluída, aliando perfeitamente CGI com os traços desenhados.

O que norteia 86 (Eighty-Six) é o debate sobre o uso de seres humanos como armas e a política de alienar a população da verdade dos fatos. Há uma elaboração sobre a depravação de uma nação que se estabelece em cima dos cadáveres de quem eles subjugam e exploram por motivos de preconceito. E uma pitada sobre controle da publicidade dos atos de guerra com direito a fake news. Uma premissa bem atual, apesar de bastante recorrente em obras do mundo pop, como 1984 (de George Orwell) e Robocop. Aqui também temos uma vilania dúbia já que o grande objetivo de San Magnolia é derrotar o constante e massivo ataque do exército de robôs Legion do Império de Giad. Porém com uma política cruel como essa de San Magnolia, será que Giad é a verdadeira vilã?

Na obra temos bons toques de drama, já que acompanhamos o esquadrão Spearhead, que funciona como uma espécie de esquadrão suicida, onde vemos vários membros partirem ao longo dos episódios. E cada perda é sentida não só por nós, espectadores, como também por Shin, o líder do esquadrão, por justamente dar o tiro de misericórdia em cada companheiro seu abatido no campo de batalha. Neste ponto o anime trabalha também com o conceito do descanso após a morte dos humanos, já que as Legions desenvolvem a habilidade de assimilar humanos em sua inteligência artificial. Por um outro lado, a obra tem um certo desequilíbrio entre ação e diálogos. Mesmo com uma animação primorosa, a quantidade das sequências de ação é um tanto escassa, ainda mais se compararmos com os extensos diálogos que temos no anime que chegam a ficar um tanto monótonos, porém funcionam no desenvolvimento dos personagens.

A narrativa de 86 é o ponto mais incomum da obra. Acompanhamos 2 protagonistas que nunca se encontram: Shin e Vladilena Milizé, major do exército de San Magnólia que se torna a nova encarregada logística do Spearhead. A trama sempre conta os dois lados da história de forma separada, e brinca com a percepção do espectador deixando pontas soltas em cada lado para que ao fim dos episódios possamos conectar as narrativas e montar uma única história. Se por um lado isto é um ponto positivo, por outro se torna um defeito. Termos dois protagonistas que se conectam, mas que nunca se encontram de fato é um tanto frustrante. Isso afeta uma parcela do envolvimento que o espectador poderia criar com os personagens, apesar de que no futuro da história tudo encaminha para que esse encontro seja possível.

Por fim, temos 12 episódios que estabelecem o universo do anime, os debates da obra e desenvolvem os protagonistas e sua “relação”. Nesta primeira temporada 86 (Eighty Six) cumpre bem o seu papel, trazendo uma história interessante e um cenário promissor para o futuro da obra. A segunda temporada também já está disponível na Crunchyroll, em breve teremos um texto no Quarta Parede sobre ela.

86 (Eighty-Six)

7.5 Bom
  • Nota 7.5
  • User Ratings (1 Votes) 10
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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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