O filme de terror do estreante diretor Robert Eggers, apresenta mais do que um simples longa-metragem de sustos e gritos, A Bruxa trabalha a tensão nas forças estranhas e ocultas da floresta e, principalmente, no drama do ambiente familiar de uma fazenda em algum lugar remoto da recém povoada Nova Inglaterra (EUA).
 
Com a proposta de representar as pessoas que viviam no século XVII, recém-chegadas ao EUA, e com uma religiosidade minimamente visceral, A Bruxa se prende na história de Thomasin (Anya Taylor-Joy), seus pais e seus 4 irmãos mais novos após serem banidos por heresia (não fica claro qual) de uma comunidade de imigrantes ingleses . Após a expulsão eles se estabelecem à duras penas em um descampado desconhecido e inóspito, munidos de suas crenças cristãs mais do que ortodoxas para ali montarem a sua fazenda e suas novas vidas, outra vez.
 Logo que a família afirmam sua residência, ainda mal acabada, e começa a extrair da terra e dos animais seu sustento diário, a floresta que os cerca rapidamente ganha um ar sombrio. A natureza misteriosa e ainda desconhecida naquele lugar é bem retratada como algo a ser temido, ainda mais quando como em um passe de mágica o bebê Samuel que estava sob os  cuidados de Thomasin some, e uma entidade bizarra se mostra aos espectadores.
 De fato a floresta e os animais chamam a nossa atenção, mas o relacionamento entre os integrantes da família é o que verdadeiramente está em voga na situação. A devoção à crença, as orações auto-depreciativas, os pais castradores, os olhares maliciosos de Caleb para sua irmã mais velha, enfim, o filme se atenta em demonstrar realmente sua intenção de valorizar o relacionamento dessa família diante dos fatos bizarros que vêm acontecendo. E todos esses fatos estão ligados à Thomasin, a irmã mais velha.

Desde a perda do bebê, até todo desenrolar da película, nós espectadores não podemos afirmar com certeza absoluta que Thomasin tenha nada a ver com os acontecimentos. Pois os mesmos a rodeiam, até chegar ao ponto da protagonista ser considerada praticante de bruxaria, mesmo nascendo em um lar tão rígido e cristão que seus pais impunham. Situação esta ainda mais posta em dúvida quando os gêmeos, irmãos caçulas da protagonista, afirmam que Black Phillip (o bode negro da fazenda) revelara a eles as bruxarias da primogênita.

O filme conta com excelente fotografia, deixando o filme com aquela cara de filme clássico, porém atual. Além de excelente – e sinistra – construção e desenvolvimento de personagens. O longa-metragem lançado em março de 2016, consegue ritmar de forma eficaz toda a tensão durante ao longo de sua duração. Não deixando momento vagos para o espectador ter um respirar mais aliviado, seja nos momentos familiares ou solo, o drama e suspense envolto em Thomasin estão sempre no ar.

Focado muito mais no relacionamento interpessoal de seu elenco, A Bruxa ganha pontos por tratar o gênero de terror de uma forma diferente. Saindo do padrão que muitos já esperam ver nas telas, nos trazendo um outro nível de terror. Não que seja melhor ou pior que outros, apenas diferente. E mesmo com essa proposta o longa cai em alguns clichês de filmes de terror em alguns momentos, ainda mais no final da trama, deixando um leve gosto amargo por todo o bom desenrolar da história, porém sem estragar a nossa interpretação total e única do filme. Com muito mais pontos positivos do que negativos na balança do julgamento, A Bruxa se apresenta como um ótimo filme de terror, trazendo talvez até uma nova tendência para o gênero. Variedades estas que para nós, espectadores e fãs de filmes com estas temáticas, só teremos a ganhar.

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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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