Após a boa recepção da série produzida pela Netflix, a procura pela trilogia iniciada com O Problema dos Três Corpos aumentou consideravelmente, motivando os leitores a irem adiante na saga de ficção cientifica escrita pelo chinês Cixin Liu. A Floresta Sombria, segundo volume da obra, nos provoca uma reflexão sincera sobre como a humanidade reagiria diante de uma ameaça externa desconhecida baseando-se em uma assustadora hipótese científica que de fato existe.
Depois da confirmação de que os seres alienígenas conhecidos como trissolarianos estão a caminho para invadir a Terra, os humanos buscam diversas formas de se preparar para o confronto. No entanto, a maior dificuldade está na presença dos sófons – partículas subatômicas que monitoram e transmitem todas as ações da humanidade aos inimigos, expondo qualquer estratégia de defesa. Tentando contornar essa situação e cientes de que a mente humana é o único lugar livre de vigilância, os governos se reúnem para escolher quatro candidatos ao Projeto Barreiras. Dotadas de poderes e recursos quase ilimitados, a missão das Barreiras é pensar em meios de defender o planeta da invasão de Trissolaris. Porém, a capacidade de guardar segredos se mostrará o maior dos desafios.
Uma das características que tornam a trilogia de Cixin Liu, especialmente este segundo livro, tão atraente é o fato de que todas as questões levantadas possuem verossimilhança. Como reagiríamos se, de hoje para amanhã, descobríssemos que uma raça extraterrestre tecnologicamente superior está vindo até nós para tomar nosso planeta? A narrativa do autor, por mais que apresente elementos que extrapolem a realidade, tenta responder a essa pergunta de forma sincera.
A Floresta Sombria nos mostra que nem de longe tal problema teria uma resolução simples, visto que uma quantidade infinita de fatores pode interferir no curso dos acontecimentos. Há aqueles que tentarão fugir, aqueles que enfrentarão o inimigo de frente; haverá uma parcela que enxergará os invasores como salvadores de caráter divino, e ainda terá uma parte que não se importará com nada disso e focará nos desafios terrenos mais simples e imediatos de serem solucionados.
O Projeto Barreiras ao qual somos apresentados é apenas o exemplo central do que poderia ser feito diante dessas circunstâncias. Ao mesmo tempo ingênua e ousada, essa tentativa de defesa expõe o melhor e o pior dos seres humanos, a começar pelo protagonista desse livro. Luo Ji é um homem inteligente, contudo não faz bom uso dos conhecimentos que possui e sempre busca maneiras de obter benefício próprio. Ele é aquele tipo de personagem que você consegue simpatizar na mesma medida em que sente raiva e pena.
As partes mais fantasiosas de A Floresta Sombria ocorrem depois de passagens de tempo consideráveis e então finalmente podemos ver um cenário mais futurístico, com recursos que a humanidade ainda não possui hoje em dia. Ainda assim, é curioso ver como o autor se espelha na sociedade atual e cria um cenário onde a população sofre com o excesso de informações instantâneas de forma muito pior que os internautas do presente.
Em paralelo a todas as questões sociais, políticas e filosóficas da obra, o que mais chama a atenção é o conceito teórico de Floresta Sombria. Essa hipótese científica serve de base não somente para este romance, mas para a trilogia inteira e apresenta uma visão fria e assustadora do Universo. O terceiro e último volume, O Fim da Morte, irá explorar essa teoria ainda mais profundamente e com grandes consequências para a trama.
Dentre os três volumes que compõem O Problema dos Três Corpos, A Floresta Sombria se destaca como o de maior impacto, tanto pelos ingredientes de ficção científica quanto pela reflexão que o autor nos propõe sobre a possibilidade de, um dia, os humanos se virem diante de uma ameaça que vem de fora da Terra. Seja em um ambiente futurístico ou não, a verossimilhança da obra de Cixin Liu com o que verdadeiramente poderia acontecer é o que faz dela memorável.
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