Tijolômetro – Emilia Pérez (2024):

Ruim!

Depois da premiação do Globo de Ouro que elegeu Emilia Pérez como Melhor Filme em Língua Não Inglesa, esta produção francesa – ambientada no México e falada em espanhol – se tornou a maior rival de Ainda Estou Aqui na busca pelo Oscar 2025. Apesar das polêmicas e de algumas críticas negativas exaltadas, o resultado final do musical dirigido por Jacques Audiard realmente é decepcionante, algo que não condiz com as 13 indicações que recebeu na premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

Rita (Zoe Saldaña) é uma advogada ambiciosa que aceita trabalhar para um chefe do cartel mexicano que planeja sair de cena para se tornar quem sempre foi: Emilia Pérez (Karla Sofia Gascón). Assim, a função de Rita é tomar todas as providências para que a cirurgia de redesignação sexual ocorra e sua cliente possa ter outra vida. Contudo, algumas coisas do passado são difíceis para Emilia abrir mão, como a presença de seus filhos e de sua ex-esposa Jessi (Selena Gomez).

Uma das coisas que ficam óbvias logo no início é que a escolha de contar essa história em forma de musical não funciona em Emilia Pérez. Esse gênero tem uma peculiaridade onde o público aceita que os personagens vão começar a cantar e dançar em momentos aleatórios e as pessoas ao redor nem irão perceber na maioria dos casos. Porém o roteiro escrito por Audiard se leva tão a sério que as músicas ficam deslocadas e atrapalham o desenvolvimento da narrativa (que seria bem mais atrativa sem elas), causando uma sensação de vergonha alheia.

Como se isso não bastasse, nenhum dos números musicais é impactante ou memorável, sem contar a polêmica recente sobre o uso de IA para afinar a voz de Karla Sofia Gascón. Nem ela nem Zoe Saldaña são cantoras profissionais, apesar de terem um desempenho melhor do que Joaquin Phoenix em Coringa 2. A única cantora do elenco, Selena Gomez, se sai melhor, mas também não impressiona.

Já na atuação, as três tem seus momentos de destaque, tanto que Gascón e Saldaña foram indicadas a Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante respectivamente. Apesar de o desempenho de Karla não justificar a indicação (sem clubismo para Fernanda Torres, apenas uma opinião), Zoe realmente se sobressai e apresenta uma atuação convincente especialmente nas cenas dramáticas.

Outro problema de Emilia Pérez está na superficialidade ao abordar alguns temas. Isso não se limita somente à transição de gênero que por si só já tomaria um grande espaço da trama para ser explorada, mas inclui outras questões a respeito do passado que foi inventado para Emilia e nunca verificado, além de ignorar completamente a situação do cartel depois que um de seus maiores chefões simplesmente desaparece.

Por último, encerrando a lista problemática do filme, há a questão da representatividade do povo mexicano ou, melhor dizendo, da falta dela. Não satisfeito em ser um filme francês, o elenco principal é composto por duas americanas (Zoe e Selena) e uma espanhola (Karla). E, para piorar a situação, o longa não teve nenhuma cena gravada no México, mas sim em cidades cenográficas construídas em um estúdio na França.

Não é apenas rivalidade ou espírito patriótico que faz com que Emilia Pérez sofra tantas críticas negativas no Brasil e em outros países. A escolha do gênero musical e a forma rasa como o roteiro de Jacques Audiard explora as diversas circunstâncias que a produção apresenta transformam uma história que tinha grande potencial em algo que será lembrado apenas por seus defeitos.

Assista ao trailer:

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Mozer Dias

Engenheiro por formação, mas apaixonado pelo mundo da literatura e do cinema. Se eu demorar a responder, provavelmente estou ocupado lendo ou assistindo a um filme.

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