Tijolômetro – Ainda Estou Aqui (2024):

Ótimo!

Desde a sua primeira exibição no Festival de Veneza em setembro desse ano, Ainda Estou Aqui vem criando expectativas graças à boa recepção no circuito internacional. As apostas no novo filme de Walter Salles são tão altas que a Academia Brasileira de Cinema o escolheu para representar o Brasil na disputa por uma vaga no Oscar 2025 como Melhor Filme Internacional. Agora, a produção finalmente chega às telonas brasileiras e a conclusão é que todos os elogios feitos à obra são merecidos.

A trama é uma adaptação do livro homônimo escrito por Marcelo Rubens Paiva. Ambientado na década de 1970, em plena ditadura, conhecemos Eunice Paiva (Fernanda Torres), uma mulher comum que tem sua vida transformada após o marido, o ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello), ser capturado pelo regime militar e desaparecer. A partir daí, ela inicia uma busca árdua para descobrir o que aconteceu com Rubens, lutando contra a corrupção e a burocracia do sistema enquanto precisa cuidar sozinha dos cinco filhos.

Apesar de ser um filme que retrata a ditadura militar, a direção de Walter Salles aborda esse tema delicado sob outro ponto de vista. Ao invés de explorar cenas de violência, covardia e tortura, a narrativa mostra o outro lado: a visão dos familiares e amigos dos desaparecidos e o impacto que a opressão exerce sobre eles. Indo além de infligir tormento físico, a insegurança, o terror psicológico e a dor da perda se mostram tão terríveis quanto qualquer outro método punitivo.

Para realçar essa ideia, Ainda Estou Aqui começa mostrando o quanto a família Paiva é feliz, se valendo de uma ambientação nostálgica daquela época. Nesse intervalo de tempo, Rubens ganha enorme destaque graças ao seu carisma e a tudo que ele representa para a mulher e os filhos. Esse detalhe torna sua ausência no restante da projeção quase palpável, como se faltasse algo elementar em todos os cenários, tornando-os mais sombrios.

Nesse instante, Eunice entra em evidência ao ser obrigada a assumir as rédeas da situação e a trama passa a girar ao seu redor. É então que Fernanda Torres atrai todos os holofotes para si com uma atuação digna de prêmios. Sua personagem está em um turbilhão de emoções, passando pelo medo, fragilidade e tristeza até chegar à resiliência necessária para cuidar das crianças. E a atriz consegue transmitir todos esses estados apenas no olhar. Vale mencionar também o suporte do talentoso elenco infantil que compartilha desses momentos emocionantes.

Por ser a adaptação de um livro, o roteiro precisa selecionar o que pôr na tela, logo é compreensível que alguns detalhes sejam omitidos. Contudo, as passagens de tempo acabam tirando parte da força inicial da narrativa, já que precisam contextualizar de forma apressada algumas coisas que aconteceram. Ainda assim, somos recompensados com a participação especial de Fernanda Montenegro interpretando Eunice em outra fase de sua vida. Mesmo sem dizer uma fala sequer, a atriz veterana mostra que o talento na atuação é de família.

Ainda Estou Aqui traz outro olhar sobre um dos episódios mais sombrios da História do Brasil sem amenizar as barbaridades daquele período. Além de apresentar esse fato para o restante do mundo, a obra de Walter Salles coloca o cinema nacional em destaque outra vez para ter a chance de concorrer aos grandes prêmios da Sétima Arte.

Assista ao trailer:

Leia a resenha do livro que deu origem ao filme

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Mozer Dias

Engenheiro por formação, mas apaixonado pelo mundo da literatura e do cinema. Se eu demorar a responder, provavelmente estou ocupado lendo ou assistindo a um filme.

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