Tijolômetro: Nada (2025)
Nenhuma arte consegue se expressar de forma tão sutil quanto o Cinema. Seja um gesto, um olhar, uma frase, um som ou até mesmo a ausência desses elementos, tudo possui um significado, explícito ou não. Nada, primeiro longa-metragem do diretor Adriano Guimarães, busca essa sutileza para retratar o peso das memórias e daquilo que se foi.
Ana (Bel Kowarick) é uma artista plástica prestes a inaugurar a exposição de suas obras, porém é obrigada a largar tudo para reencontrar Tereza (Denise Stutz), sua irmã que foi acometida por uma doença misteriosa que alterna seus estados de consciência. Assim, Ana retorna à fazenda onde passou a infância e, chegando lá, precisa compreender suas próprias memórias que insistem em resgatar imagens do passado.
Inspirado na obra do poeta brasileiro Manoel de Barros, Nada trabalha de maneira bem discreta a diferença entre o que realmente está presente em cena e o que é apenas uma lembrança. Alternando o ponto de vista das duas personagens centrais, as ausências vão se tornando mais perceptíveis: uma pessoa, um animal, um zumbido… Ainda que não faça sentido, começamos a perceber esses pequenos detalhes aos poucos.
Outro traço estético da produção são as cenas gravadas com uma única câmera, mostrando apenas um ângulo. Isso cria enquadramento e fotografia intencionalmente limitados que escondem o que está fora do campo de visão do público. Contudo, nas passagens onde os personagens estão mais afastados, a captação do áudio fica comprometida.
Sob essa perspectiva misteriosa, é compreensível pensarmos que o roteiro está criando uma atmosfera de terror, principalmente pelo fato de uma estranha influência tecnológica ganhar destaque. Entretanto, por mais que nos preparemos para instantes mais “assustadores” e tensos, isso não chega a acontecer graças à mesma sutileza que permeia o filme.
Em dado momento, podemos ver um pouco mais dos efeitos que essa estranha tecnologia causa nos moradores. Essa é uma das sequências mais instigantes da obra, porém infelizmente a narrativa não se aprofunda nisso por mais tempo. Daí em diante, a trama se encaminha para um final aberto a diferentes interpretações sobre o que poderia ser tal tecnologia e qual sua finalidade.
Nada certamente não entrará para a programação das grandes redes de cinemas, mas quem tiver a oportunidade de assistir ao longa distribuído pela Embaúba Filmes tirará suas próprias conclusões. Esse detalhe apenas reforça a sutileza da produção que, como muitas outras na história do Cinema, permanece subjetiva e com múltiplos significados mesmo após o fim da projeção.
Assista ao trailer:
Conteúdo relacionado:
Fique por dentro das novidades!


