Tijolômetro: Filhos (2024)

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Produções que exploram dilemas morais e colocam seus personagens em posições que desafiam seus valores são as que mais geram reflexão no público. É praticamente impossível não se colocar no lugar do protagonista e se perguntar: “o que eu faria nessa situação?” Filhos (Vogter, no original) até consegue provocar esse pensamento no espectador, porém apenas arranha a superfície de um tema com muito mais potencial.

Nessa parceria entre França, Dinamarca e Suécia, conhecemos Eva (Sidse Babett Knudsen), uma agente penitenciária dedicada e respeitada pelos detentos. Sua rotina muda quando Mikkel (Sebastian Bull), alguém diretamente ligado ao seu passado, chega à prisão. Obcecada, Eva pede transferência para a ala de segurança máxima — a mais perigosa de todas — apenas para ficar mais perto do rapaz. A partir daí, seu senso de justiça entra em choque com a ética do trabalho.

Apesar de o título em português prejudicar parte da experiência por dar muitas pistas sobre as revelações da trama, a premissa de Filhos continua sendo ótima para o desenvolvimento de um thriller psicológico. A dinâmica carcereiro/prisioneiro cria limitações e condições para ambos os personagens, conduzindo suas atitudes de acordo com as circunstâncias.

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Contudo, o maior problema do longa dirigido por Gustav Möller é justamente o fato de essa dinâmica demorar a evoluir. No primeiro instante, Eva se encontra em uma posição específica em relação a Mikkel, reforçada por algumas conveniências do roteiro. E mesmo quando há uma possível inversão de papéis na relação deles, o grau de tensão não aumenta. Quando o clímax enfim chega, fica a sensação de que a interação entre os protagonistas se tornaria mais interessante a partir daquele ponto, mas o filme então acaba.

Ainda que haja esse problema relevante na narrativa, não dá para negar que as atuações de Sidse Babett Knudsen e Sebastian Bull chamam a atenção pela intensidade. Ela precisa encarnar uma mulher centrada que está sendo dominada por suas emoções conflitantes; ele, por outro lado, transmite toda a fúria de um sujeito violento e explosivo que é obrigado a se conter.

Depois de 1h40 de projeção, a única coisa que impede Filhos de ser um thriller psicológico marcante é a falta de ousadia para ir adiante nesse relacionamento condicionado pelo ambiente carcerário. A premissa está ali para confrontar o público com um dilema moral, porém falta explorá-lo até às últimas consequências e causar o impacto certo.

Assista ao trailer:

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Mozer Dias

Engenheiro por formação, mas apaixonado pelo mundo da literatura e do cinema. Se eu demorar a responder, provavelmente estou ocupado lendo ou assistindo a um filme.

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