Stephen King tem o dom de pegar qualquer coisa e torná-la assustadora, seja um carro, um palhaço, um túnel ou até mesmo um cachorro fofo. Esse último caso é justamente o que acontece em Cujo, um de seus livros clássicos mais marcantes, tanto pela narrativa tensa e surpreendente quanto pela forma como foi escrito.

Cujo é um cão da raça são-bernardo que vive nos limites da cidade de Castle Rock com a família Camber. Apesar do tamanho intimidador, o animal é conhecido por sua docilidade, contudo isso muda quando ele é mordido por um morcego raivoso e se torna violento e implacável. Enquanto isso, o menino Tad Trenton não consegue dormir à noite, pois está convencido de que o espirito do falecido assassino em série Frank Dodd o observa pela porta entreaberta do closet. O que ele não sabe é que uma ameaça maior está à espreita.

Antes de comentar sobre a trama em si, aqui vai uma curiosidade: Stephen King não se recorda do período em que escreveu esse livro. Em seu livro de memórias, Sobre A Escrita, King comenta que durante a escrita de Cujo ele estava sempre sob o efeito de álcool e drogas e lamenta não se recordar de como foi a experiência de colocar essa história no papel.

Mesmo sob o efeito de entorpecentes, King conseguiu pegar uma situação especifica onde mãe e filho precisam sobreviver e criou uma narrativa em torno disso capaz de deixar seus leitores verdadeiramente apreensivos. O papel de cada personagem e os encontros e desencontros que ocorrem fazem com que todas as peças se encaixem em seus devidos lugares e tudo faça sentido. O resultado é um clima de suspense constante com consequências imprevisíveis.

Uma característica que chama a atenção é que o narrador também nos apresenta o ponto de vista de Cujo enquanto a doença corrompe seu cérebro e o transforma em uma máquina de matar. Assim, podemos acompanhar sua própria confusão com o que está acontecendo até chegar à perca do controle, quando a raiva passa a dominar todos os seus instintos. Nesse intervalo, há um flerte com o sobrenatural que deixa aquela dúvida sobre seus atos serem efeitos da moléstia ou então de algo mais.

Sendo sobrenatural ou não, o desfecho é bem realista e chocante. Mesmo sabendo que Stephen King não tem pena ou remorso de criar algumas situações, sempre acreditamos que ele não iria tão longe. Mas ele vai e deixa seus leitores com um sabor amargo ao final da leitura; não por que é uma conclusão ruim, mas sim por ser surpreendente e incômoda.

Ainda que King não se lembre de tê-lo escrito, Cujo parte de uma premissa simples e se desdobra em vários acontecimentos que resultam em catástrofes. Isso o torna um verdadeiro clássico do terror que mostra que até mesmo coisas aparentemente inofensivas podem esconder um lado agressivo e brutal, bastando só um empurrãozinho para despertá-lo.

Adicione este livro à sua biblioteca!

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Mozer Dias

Engenheiro por formação, mas apaixonado pelo mundo da literatura e do cinema. Se eu demorar a responder, provavelmente estou ocupado lendo ou assistindo a um filme.

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