Quando a personagem Nell diz que seus irmãos e seus pais não são uma família normal por causa do lugar onde cresceram, a Residência Hill, parece ser um tanto clichê, mas é interessante acompanhar durante os 10 episódios da nova série de terror da Netflix como a causa gerou a consequência nas vidas dos personagens. A Maldição da Residência Hill chega ao catálogo da reprodutora via streaming prometendo muito terror e sustos, mas a maior surpresa fica com a trama que envolve muito drama familiar em uma narrativa tortuosa que promete um belo plot twist em seu desenrolar.

Shirley (Elizabeth Reaser/Lulu Wilson), Theo (Kate Siegel/Mckenna Grace), Nell (Victoria Pedretti/Violet McGraw), Luke (Oliver Jackson-Cohen/Julian Hilliard) e Steven (Michiel Huisman/Paxton Singleton) são cinco irmãos que cresceram na mansão Hill, a casa mal-assombrada mais famosa dos Estados Unidos. Agora adultos, eles retornam ao antigo lar e são forçados a confrontar os fantasmas do passado, após o suicídio da irmã mais nova. A série adapta o clássico livro da escritora Shirley Jackson, The Haunting of Hill House, ou no bom português, A Assombração da Casa da Colina, de 1959. Shirley é considerada uma das mais influentes escritoras americanas sendo iniciada por ninguém menos do que Edgar Allan Poe, e falecida em 1965. Assim como no livro, a série traz como o elemento principal a mansão Hill, que é o desencadeador de várias assombrações, porém o mais interessante de observarmos é o trauma que tais acontecimentos podem gerar na vida das pessoas, ainda mais quando as mesmas ainda são crianças.

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A narrativa interpolada entre o passado e o presente gera um sentimento interessante no espectador, pois nos deparamos com a causa e a consequência de tais acontecimentos sobrenaturais com a perspectiva do tempo. Observarmos como aquelas fofas crianças sofriam e morriam de medo com suas assombrações dentro da casa, e notarmos como elas cresceram e se tornaram adultos quebrados é algo que acaba mexendo com o nosso íntimo – vermos como foram frustrantes aquelas vidas devido ao passado dá uma certa tristeza. Tais eventos dentro da residência não só mudou a vida de cada um como também triturou a relação da família ao longo do tempo mesmo depois de saírem da casa. Esse drama familiar é um dos pontos mais positivos da série, que prometia um simples terror e entregou algo mais rico. E a maneira como isso foi contado para o espectador também foi interessante.

Ao longo de cada episódio vamos descobrindo como foi a estadia na casa na perspectiva de cada uma das crianças. E percebemos como a casa agia de forma diferente com cada uma. Não só as seduziam como também as atormentavam de maneiras específica. Com o passar dos episódios nos deparamos com uma trama que conseguiu envolver todos os sete personagens principais de uma maneira bem engedrada, com cada um ganhando seu devido destaque. Tal destaque não são bem ofertados para os pais da família Crane, Liv e Hugh, vividos respectivamente pela Carla Gugino e Henry Thomas (aquele mesmo que fazia o menino no filme ET o extra-terrestre) eles participam dos principais problemas da série. A maneira como Hugh se ausenta física e psicologicamente da vida dos filhos é absurdamente forçado, além da mudança das dores de cabeça da Liv para uma total loucura acontecer numa construção fraca e rápida no roteiro. O argumento é até interessante para ambos os casos, mas o roteiro foi mal construído para validá-los.

Mike Flanagan dirige a produção de forma eficiente. O diretor marcado por sua veia de terror, conseguiu não só imprimir um drama consistente, gatilhos narrativos coerentes, como também impor um terror tanto visual quanto psicológico bem assustadores. A casa, mesmo que imóvel, se torna um elemento muito assustador ao longo dos episódios, o quarto vermelho se transforma no mistério ainda maior, e o clima de suspense dificilmente dá um descanso para o espectador poder respirar tranquilo. Além de proporcionar excelentes planos sequência no interior da residência. Todo o elenco funcionou muito bem na produção nas mãos de Flanagan, e quando todos se reúnem no funeral a série ganha ainda mais poder em nos manter vidrados na tela, apesar de alguns diálogos um pouco fracos. Flanagan também dirigiu outra produção de terror na Netflix, no filme Jogo Perigoso, que adapta o livro Gerald’s Game do Stephen King, inclusive com a Carla Gugino no elenco. Leia mais sobre Jogo Perigoso.

A Maldição da Residência Hill é uma bela obra que aborda um drama familiar, lapsos temporais, plot twist e muitos sustos e horrores. Uma excelente pedida pra você que curte o gênero do terror um pouco mais elaborado e menos besteirol. Achei o final exageradamente piegas, ainda mais sob a perspectiva desoladora que a série aborda na maior parte de seus episódios. Mas isso vai de acordo com o gosto de cada um. Ponto positivo pra Netflix que mais uma vez emplaca uma boa produção original de terror.

https://youtu.be/RqOF0CLWdIc

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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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