Provavelmente Stephen King é o autor que mais falamos aqui no Tarja. Basta clicar no nome dele e conferir os diversos textos que já fizemos onde ele é abordado. A Torre Negra é uma série de livros fantásticos do autor, que desejava fazer seu próprio Senhor dos Anéis. Quando ainda era muito jovem ele se embrenhou nesse universo sombrio de fantasia com ares de velho oeste e começou essa jornada de publicação que hoje possui sete livros ( e algumas histórias paralelas). As aventuras do Pistoleiro sempre caíram na lista de obras consideradas inadaptáveis para o cinema devido à bizarrice única da trama. Mas cá estamos em 2017 com o primeiro filme do universo Torre Negra.  

Jake (Tom Taylor) é um menino que sonha constantemente com uma Torre Negra e um Homem de Preto, sonhos estes que faz sua família pensar que ele pode estar enlouquecendo de alguma forma. Paralelo a isso, diversos países do mundo sofrem com misteriosos e repentinos terremotos. Quando Jake percebe que está sendo mandado para uma clínica repleta de pessoas usando peles falsas, ele decide fugir e ir atrás do Pistoleiro (Idris Elba) que também aparece em seus sonhos, e acaba parando em um outro universo.

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Apesar de King ter feito um grande amálgama de diversas coisas que ele sempre gostou, o universo de Torre Negra é bastante único. Já no primeiro ato do filme é possível perceber que estamos diante de uma história com elementos bastante interessantes. Nas falas, detalhes e pequenos vislumbres de que este é um macro cosmos complexo e bastante rico. O grande problema é que o roteiro não se preocupa em se aprofundar em nada disso e se contenta em ser mais uma trama de aventura clichê. Alguns momentos de originalidade surgem aqui e ali, mas tudo fica de lado para dar continuidade a mais uma aventura que já vimos em outras temáticas.

O diretor (que também participa da concepção do roteiro) Nikolaj Arcel faz diversos cortes abruptos que quebram o ritmo da história e tiram totalmente da imersão. Ele escolhe fazer transição de cenas nos momentos mais óbvios, como uma frase de efeito qualquer, ou cenas de luta pouquíssimas criativas levando em conta todos os elementos que existem neste universo. É como se eles fizessem força para lapidar uma história única até transformá-la em mais uma história qualquer. Falta também uma trilha sonora condizente com o que se passa na tela, mas a trilha também parece se esforçar para ser o mais comum possível. Para um filme de fantasia que viaja entre mundos o visual desse filme é entediantemente comum. 

Os efeitos especiais parecem estranhamente baratos para um filme que claramente se propõe a ser um blockbuster. Esse problema vai desde a concepção visual do universo até para criar momentos de luta. Idris Elba e Matthew McConaughey se esforçam para dar vida a esses personagens, mas não adianta muito, pois a história em sua natureza é fraca. Até o ator que faz o Jack (Tom Taylor) é bastante eficiente e até melhora o filme criando um protagonista cativante.

O terceiro ato é um desastre, que acaba jogando fora a qualidade do primeiro (que é até interessante e envolvente). Parece que Nikolaj está fazendo o encerramento do filme o mais rápido possível para conter gastos e acabar logo com tudo. Seus cortes nesse momento ficam tão abruptos que até atrapalham a concretização do clímax. Mais uma vez se vê boas ideias sendo picotadas para caberem na caixinha do “mais um filme qualquer”.

Para os fãs da saga é um filme um tanto melancólico, pois é triste ver tanto potencial desperdiçado. Para os fãs do bom cinema é um blockbuster com lapsos de criatividade (que são originados do livro), mas sufocados por um filme esquecível. Não sei se é melhor torcer para que a franquia não vá para frente e esperar que ela seja refeita com mais carinho, ou esperar que numa continuação a coisa melhore. Uma série de TV está agendada para dar continuidade aos eventos deste universo. Talvez a única coisa que realmente seja bacana para os fãs do autor é perceber diversos elementos de suas outras obras aparecendo de forma relevante nessa trama. Mas como eu já disse, são só lapsos. Continua sendo um desperdício de Stephen King.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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