A adoção sempre é um tema que rende histórias dramáticas. Talvez desde a tragédia grega temos histórias envolvendo crianças que são criadas por outras pessoas que não são seus pais. Tanto histórias boas quanto histórias péssimas usam desse elemento para gerar tensão e conflito. Com o avanço da ciência na metade do século XX para frente, descobrimos novas formas de levar uma gravidez, como barriga de aluguel, inseminação artificial e outros artifícios que acabam sendo utilizados em dramas envolvendo família. As novelas brasileiras sempre adoraram esse tema e já o trabalharam de diversas formas. Inconceivable é um filme que tem essa questão como ponto central e tenta gerar um suspense intenso a partir disso.

Angela, interpretada por Gina Gershon, começa a fazer amizade com a mãe de uma das amiguinhas de sua filha pequena. Elas ficam muito próximas e gradativamente a amiga, Katie (vivida por Nicky Whelan) se mostra uma mulher estranha e possivelmente perigosa, mas talvez já seja tarde demais para separar as duas filhas.

O problema desse filme está em seu início. O primeiro ato é bastante lento e atrasa para despertar no espectador o que realmente está de errado no relacionamento das protagonistas. As falas também não ajudam muito, a maioria soa bastante artificial, além de ocorrer bastante exposição em momentos estranhamente inapropriados. As coisas demoram a começar e por um bom tempo parece que estamos só vendo um grupo de pessoas totalmente ordinárias.

Quando o filme começa verdadeiramente mergulhar no seu suspense as coisas melhoram. Entenda que esse não é um filme muito bom. Acredito que a melhor forma de aproveitá-lo seja encarando a trama como uma novela mexicana condensada no tempo de um filme. Quando eu digo novela mexicana eu me refiro aos plots e revelações exageradas. Se encarar a trama dessa forma e deixar o filme te levar pode até ser bastante divertido e revelar algumas surpresas. Se colocarmos esse roteiro, escrito por Chloe King que possui vários roteiros desse estilo em sua carreira, num microscópio, perceberemos várias coisas levemente absurdas. A forma como os segredos vão sendo revelados, por vezes, são bem estranhas e totalmente não condizentes com o mínimo de realidade.

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A direção de Jonathan Baker é totalmente não criativa. Por vezes parece que estamos vendo um filme feito para a TV. Talvez isso seja aceitável levando em conta que esse é seu segundo trabalho como diretor e primeiro comandando um longa de verdade. As atuações são um detalhe a parte. Nicolas Cage é totalmente secundário e seu personagem é completamente subaproveitado e desinteressante. Até nos momentos onde ele poderia brilhar Cage parece estar fazendo questão de atuar no automático. Gina Gershon é uma das protagonistas e se esforça bastante para viver o drama que sua personagem pede, mas, por vezes, faz algumas expressões que são quase cômicas. Quem verdadeiramente brilha aqui é Nicky Whelan que consegue até entregar uma personagem verdadeiramente interessante.

Este não é um filme bom, mas acho que ele pode perfeitamente agradar quem busca uma trama novelesca meio boba com um leve suspense. Não duvido que as pessoas que assistam esse filme com a vibe certa possam colocá-lo na lista de guilty pleasure. Entretanto, até acho que para quem busca algo assim talvez existam filmes melhores. Mas Inconceivable pode quebrar o seu galho de dramalhão e funcionar como novela compacta.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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