A Roda do Tempo foi a mais nova super-produção feita exclusivamente para o serviço de streaming Prime Video. Adaptando a homônima série de livros escrita por Robert Jordan. A série conta com uma boa produção e cria um mundo de fantasia épico interessante, porém com o elenco duvidoso, personagens pouco aprofundados e uma história um tanto chupinhada de O Senhor dos Anéis fazem com que a obra fique num limbo entre o cativante e o apático.

A série se passa no que é tecnicamente o futuro. Mas devido à natureza cíclica do tempo na série, parece muito com o passado distante da Terra. É durante uma época conhecida como “Terceira Era” (já aqui uma semelhança entre a obra de Toliien), cerca de mais de três milênios depois de um evento cataclísmico conhecido como “A Quebra do Mundo”, que pôs fim a uma era tecnologicamente avançada conhecida como “A Era das Lendas” que a série se passa. Neste mundo de fantasia existem mulheres capazes de utilizar a Fonte para canalizar poderes mágicos, as Aes Sedais. Acompanhamos uma delas, Moiraine Sedai (Rosamund Pike), enquanto ela tenta encontrar o Dragão Renascido, uma figura profetizada cujas ações poderão salvar ou condenar a humanidade. 

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Há uma óbvia inspiração em Senhor dos Anéis na história, onde algumas coisas chegam a gritar como um plágio. O Tenebroso, o grande mal sem forma física que está preso no Grande Olho, uma clara referência a Sauron. Os Desvanecidos, os misteriosos homens de capas pretas que são os líderes dos exércitos do mal controlados pelo Tenebroso, uma imitação evidente dos Nazgûl. A maga que forma e lidera um grupo de possíveis escolhidos para acabar com o mal, Gandalf e os hobbits. É tão escancarado que algumas fanfics conhecidas se diferenciam mais de suas obras originárias do que em A Roda do Tempo. Talvez a própria Amazon esteja utilizando desta série como um grande laboratório pra série do Senhor dos Anéis que a mesma está produzindo. É o que parece. Essa suspeita da série ser um teste para a Amazon antes de lançar O Senhor dos Anéis se sustenta até mesmo pela  boa produção envolvida na série. As ambientações, figurinos, efeitos especiais são bem honestos, há uma escorregadinha aqui outra ali, como no efeito especial do rosto do Tenebroso, mas no geral é bem competente. 

O mais interessante e talvez original da série seja o conceito da roda do tempo em si. Que fala sobre destino, vidas passadas, destinos que se entrelaçam como fios numa roda de tear. Daí o conceito de Roda. É um conceito um tanto determinista, que sempre apela para a figura de roteiro do Chosen One (o escolhido), que neste caso é o Dragão Renascido, porém também ajuda a ampliar a mitologia da obra, mesmo que tacanhamente, pois muito já aconteceu antes e pode acontecer novamente no futuro, naquele ciclo sem fim como na música do Rei Leão. Outro ponto positivo neste primeiro ano foi a interpretação de Rosamund Pike, que parece ser a única realmente a ser um pouco mais desenvolvida do elenco da série.

A obra não desenvolve satisfatoriamente seus personagens, e olha que não temos poucos: Moiraine como protagonista, seu guardião e cinco amigos que podem ser o Dragão Renascido numa jornada apressada, cruzando com um monte de conveniências, para chegar na Torre Branca. E neste caminho a construção da relação desses 5 amigos não consegue estabelecer a suposta forte amizade que é dita entre eles. São amigos que pouco conversam, pouco riem, que pouco se conectam. Inclusive o showrunner da série, Rafe Judkins, parece que se preocupou muito mais em dar diversidade ao elenco do que dar qualidade ao mesmo. Esse elenco dos jovens protagonistas além de não ter carisma é um tanto desafinado entre si.

Até mesmo o casal do grupo, recurso de roteiro mais comum para fazer o espectador se importar com os personagens, Rand (Josha Stradowski) e Egwene (Madeleine Madden), é tão forçado que parece importado de Malhação da Rede Globo. E tudo acontece numa conveniência digna de uma novela mesmo. Poderes ocultos que se revelam em momentos chaves… a separação do casal para que ambos tenham alguma motivação para completar a jornada… a Sabedoria que é capaz de rastrear uma Aes Sedai por que sim… e por aí vai. Entre os vários que acontecem os que mais gritaram aos olhos foram os momentos (no plural) que o roteiro utilizou-se da famosa linha que não pode ser cruzada. A perseguição dos trollocs e espíritos das sombras foi interrompida ora por uma travessia do rio, ora pela chegada na cidade amaldiçoada, outrora pela entrada na neblina. Personagens malignos mas que são cheios de medo para cruzar a caneta do roteirista. 

Esta primeira temporada de adaptação da Amazon é baseada no primeiro livro da série, “The Eye of the World“. Inclusive já há confirmação da produtora em adaptar os 13 livros restantes de A Roda do Tempo em temporadas vindouras. Por fim, no compito geral, A Roda do Tempo entrega uma temporada no máximo mediana, com um season finale agridoce e nada definitivo. Fica de marcante o bom trabalho de produção da série, que deixa alguma esperança de uma possível melhora no futuro. Por outro lado, seria salutar um desenvolvimento maior dos personagens e um distanciamento mínimo do enredo de O Senhor dos Anéis, mesmo que precise tomar decisões diferentes dos livros de Jordan.

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Análise

6.5 Regular
  • Nota 6.5
  • User Ratings (0 Votes) 0
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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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