Al Capone é uma das figuras históricas mais exploradas no cinema americano. Sua presença na cultura pop é tamanha que ele já começa a ser tratado como uma espécie de figura mitológica arquetípica. Basta ver qualquer desenho animado que mostra um gângsters cartunesco, muito provavelmente será uma paródia de Al Capone. Para qualquer ator a chance de interpretar essa figura é um prato cheio para demonstrar seu talento. Nesse longa temos Tom Hardy como o notório bandido nos seus dias finais.

A ideia dessa trama é muito original em relação a tudo que já foi feito com Al Capone, o que significa muito para esse personagem que acabou se tornando clichê. O conceito do filme está em ver o último ano de Al quando ele já estava sofrendo de neurossífilis e com um estado de demência avançado. A ideia é ver o drama de um homem que criou um império criminoso e no fim da sua vida sofreu com os delírios e deterioração mental causada pela doença que havia contraído nos seus 15 anos.

O filme foi roteirizado, dirigido e editado por Josh Trank. Você talvez conheça seu nome pelo diretor envolvido em polêmicas no filme do Quarteto Fantástico de 2015. Mas vale lembrar que ele tem um ótimo longa, também de pessoas com super poderes, chamado Poder Sem Limites.  Como já dito, Tom Hardy interpreta o protagonista e Linda Cardellini sua esposa.

O trabalho de atuação de Hardy é bom, mas acredito que esse será mais um exemplo que as pessoas usaram para fazer a piada de que todos os personagens falam de um jeito super esquisito. Ele está sempre com um charuto entre os dentes e um sotaque mega carregado. O trabalho de maquiagem é excelente e é até possível esquecer que é ele que está na tela. Linda Cardellini também possuiu o papel difícil de uma mulher passando por um drama familiar terrível. Acredito que teríamos um belo filme de drama se ela fosse a protagonista enfrentando esse problema de cuidar de um marido doente.

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O filme se foca muito nos delírios de Capone e às vezes essas visões possuem simbolismos interessantes sobre culpa e o passado do personagem, mas em outros momentos tudo parece meio aleatório e sem propósito de estar na trama. Na verdade o filme se baseia demais nesse recurso de delírio e além de perder a força acaba cansando e fazendo parecer que nada tem peso já que tudo pode ser um devaneio de sua mente. Mas mesmo assim é possível sentir o quão horrível são os desdobramentos dessa doença e como todos os familiares em volta são afetados.

Outro problema gravíssimo desse roteiro é que diversos subplots criados no meio do caminho são completamente abandonados. É quase como se o filme terminasse pela metade e esquecesse de contar histórias que o próprio filme nos apresentou. Para quem não conhece muito a historia de Capone o filme vai parecer extremamente confuso, pois o roteiro de Josh Trank supõe que o espectador conhece a biografia do personagem.

Esse é um filme com uma premissa muito interessante e que possuía um grande potencial dramático de contar um lado de uma figura famosa que nunca havia sido explorado antes. Infelizmente o longa fica focado demais nesses delírios e quase que se esquece de contar uma história. Eu realmente fiquei instigado em ver esse mesmo filme pelo ponto de vista da esposa e ver o que essa mulher enfrentou por estar casada com um dos maiores criminosos da América e como ela foi heroica em cuidar desse homem no fim de sua vida.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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