O primeiro filme da série Animais Fantásticos dividiu opiniões. Hoje já podemos dizer que o universo de Harry Potter possui uma sólida base de fãs e uma complexidade a ponto de ser estudada. J.K Rolling é uma autora genial, talvez uma das mais influentes do nosso século até o momento, e assumiu o desafio de escrever roteiros de cinema em seu próprio universo. A estrutura de livros e roteiros cinematográficos é muito diferente e mesmo que ela seja genial em sua área não significa que ela será bem sucedida em sua nova empreitada. Porem, é fato de que os fãs estão bem empolgados com o que os novos filmes tem para mostrar, já que eles retratam o passado de uma série de personagens icônicos.

Newt Scamander (Eddie Redmayne) enfrenta problemas com o ministério da magia britânico devido aos acontecimentos de sua última aventura em Nova York. Além disso, Albus Dumbledore (Jude Law) o envia a uma missão de rastrear o perigoso Grindelwald (Johnny Depp) e impedir um de seus maléficos planos em Paris.

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O grande problema desse filme é sua montagem. Existe algum desentendimento entre roteiro e direção que faz com que a transição de cenas, ideias e eventos pareça muito atrapalhada. Isso me parece muito estranho tenho em vista de que o diretor David Yates vem trabalhando nos filmes deste universo desde Harry Potter e a Ordem da Fênix, ou seja, um diretor que está muito acostumado com o trabalho de J.K Rolling. A verdade é que este é um filme com uma história bem mais complexa do que o primeiro, o que a torna naturalmente mais complexa de se estruturar e editar na pós-produção.

Essa é uma narrativa que constrói muito do que está por vir e aumenta a tensão e proporção dos acontecimentos. Finalmente temos total noção do que é o vilão e seus propósitos. Ele acaba seguindo a tradição de J.K. em mostrar grandes líderes de extrema direita e como eles são um perigo para a coletividade. Também podemos ver como funciona a política no mundo bruxo e vislumbrar o lado mágico do resto deste universo. O protagonista ganha mais profundidade e a visão do jovem Dumbledore é curta, mas positivamente impactante em vários aspectos.

Então onde estão os problemas? Acho que o mais evidente reside na personagem Queenie Goldstein que possui um arco de personagem muito fraco e, de modo geral, escrito com uma simplicidade incomum na obra da própria J.K. A interpretação de Alison Sudol também exagera num excesso de vozes finas e gestos histéricos. Algumas revelações são confusas e diversos eventos da trama parecem muito abruptos e sem ligação com o evento seguinte, criando um ritmo que parece forçado e truncado em muitos momentos. Mas acredito que o que mais incomodará os fãs da série é a falta de cuidado da própria autora com algumas regras pré-estabelecidas que a mesma quebra. O exemplo mais evidente é a cena onde alguns personagens aparatam em Hogwarts, algo que foi repetido a exaustão que era impossível.

O clímax no terceiro ato é muito fraco apesar de alguns acontecimentos e revelações interessantes. A ação do filme quase só existe no início e no final e de uma qualidade inferior ao primeiro filme. Ação nunca foi o foco desse universo, mas aqui ele tenta uma grande cena épica que não convence. Outro grande problema são os dramas amorosos dos principais personagens. Eles são mal escritos e extremamente imaturos, a ponto de ficar bizarro ver adultos conversando daquela maneira. Talvez só o protagonista escape dessa crítica levando em conta sua personalidade.

O final nos deixa prontos para uma promessa interessante. Apesar de considerar esse um longa fraco comparado a outras coisas que já vimos deste mesmo universo, acredito que essa nova série de filmes está caminhando para algo muito interessante. Quem já leu os livros tem uma boa noção para onde a coisa toda está indo, mas isso não deixa de ser menos interessante tendo em vista que os eventos em si só foram mencionados e nunca mostrados. Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald vale ser visto no cinema, mas se você é um fã de longa data talvez se sinta dividido em alguns aspectos. Se só é um grande fã de cinema talvez ache o longa um pouco comum em diversos aspectos. Não é o melhor do que J.K já nos mostrou, mas ainda assim divertido.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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