The Room é simplesmente o filme conhecido por ser “a pior coisa já feita na história do cinema”. Apesar de existirem alguns outros filmes que competem por esse título, é unânime para todos que já assistiram essa pérola que este é uma obra prima dos filmes ruins. A obra em si é tão assustadoramente ruim que chega a ser fascinante o simples fato de sua existência. Justamente por esse caráter tão único que The Room acabou se tornando uma espécie de clássico Cult bizarro que atrai a curiosidade mórbida de cinéfilos ao redor do mundo a ponto de se tornar uma grande piada coletiva. Entretanto todos que se aventuraram em assistir tal filme se perguntaram a mesma coisa “Como tal maluquice ganhou vida e foi filmada?”. Artista do Desastre vem justamente para responder essa pergunta.

Caso não conheça o filme The Room eu sugiro fortemente em ler o texto no link abaixo para se situar. 

Greg é um aspirante a ator que tem grande dificuldade de vencer sua timidez e falta de jeito. Quando se depara com o misterioso Tommy numa aula de teatro logo percebe que encontrou um grande amigo que partilha de seu sonho: se tornar um astro do cinema. Juntos eles partem para Los Angeles na tentativa de tornar esse sonho uma realidade, mas quando as coisas não dão certo como imaginavam eles partem para uma ideia mais ousada: decidem fazer seu próprio filme.

Este filme pode soar um pouco estranho para quem nunca viu The Room e de fato a única forma de aproveitar Artista do Desastre em sua plenitude é assistir o filme originário. “Mas Raul quer dizer que para eu assistir esse filme eu terei que assistir outro antes e que ainda por cima é tido um dos piores filmes do mundo?”. Sei que isso pode parecer um absurdo, mas eu realmente acredito que todo o verdadeiro cinéfilo precisa ver The Room pelo menos uma vez na vida. Seja pela comédia involuntária incrível, pela gigantesca piada interna do mundo do cinema e até pelo aprendizado do que não fazer num filme. Caso você passe pela tarefa de assistir este filme, você terá o caminho aberto para Artista do Desastre que é simplesmente fabuloso. É claro que é possível assisti-lo sem passar pelo The Room, mas a experiência não será 100% completa.

A atuação de James Franco como Tommy é inacreditavelmente boa. Tommy é uma das figuras mais misteriosas do mundo do cinema e até hoje sua história é uma incógnita. James Franco não só imita perfeitamente a icônica persona de Tommy, como também consegue dar nuances para este personagem tão estereotipado. Dentro do jeito bizarro de se portar do Tommy ele cria raiva genuína, depressão absoluta e o senso de humor tão específico que o simples fato de ser reproduzido por outra pessoa que não seja o verdadeiro Tommy já é uma proeza. Dave Franco por sua vez faz o amigo Greg e é justamente pelo ponto de vista dele que acompanhamos a história. Greg é um papel mais fácil do que o extravagante Tommy, mas mesmo assim Dave Franco faz um excelente trabalho e os dois juntos demonstram ter uma química incrível.

A direção também é de James Franco e nesse quesito ele demonstra um talento que até então não havia revelado. Seus outros trabalhos como diretor são bem ruins, apesar dele se esforçar em ser um cineasta diversificado muitos pensam que ele é apenas aquele “maconheiro dos filmes engraçados”. Mas aqui ele pode realmente dizer que fez uma obra-prima. Não só contou uma história incrivelmente interessante, mas também revelou um dos mistérios mais intrigantes do mundo do cinema e reproduziu com perfeição cenas do The Room com precisão matemática.

O Artista do Desastre é uma comédia, mas como todas as grandes comédias ela tem um lado dramático muito intenso e muito verdadeiro. Tommy deixa de ser “aquela figura bizarra daquele filme bizarro” e se torna um ser humano com sentimentos complexos e cheio de problemas. Acabamos criando uma incrível conexão com este personagem (que é uma pessoa real, não esqueçamos isso) assim como Greg. Os dois deixaram de ser personagens estranhos e se tornaram incrivelmente cativantes. Ao mesmo tempo Artista do Desastre é um incrível exercício de metalinguagem. Um filme que fala de filme. Atores que fazem personagens que são atores e que por sua vez possuem personagens. Um filme muito mais complexo do que aparenta, muito mais profundo do que aparenta e hilário em diversos sentidos.

Assista ao trailer:

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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