Quando se fala no nome de C. S. Lewis, uma das primeiras coisas que associamos a ele são As Crônicas de Nárnia. Por mais que o meu contato inicial com o autor não tenha sido através dessa obra – mas sim por meio do ensaio Cristianismo Puro e Simples – ter ideia da forma e da intensidade com a qual Lewis entendia a filosofia cristã fez toda a diferença na hora de ler as entrelinhas da fantasia e extrair significados profundos desse clássico da literatura que muitas vezes passam despercebidos.

Nesse volume único, encontramos as sete histórias sobre Nárnia em ordem cronológica, contando desde a criação desse reino mágico até seus momentos mais críticos. A aventura começa com O Sobrinho do Mago, se passado muitos anos antes do próximo, O Leão, Feiticeira e o Guarda-Roupa, o qual foi o primeiro livro a ser adaptado pela Disney nos cinemas e aquele que nos apresenta o quarteto Lúcia, Pedro, Edmundo e Susana. A terceira história é O Cavalo e seu Menino, uma espécie de interlúdio antes de Príncipe Caspian, o qual é seguido por A Viagem do Peregrino da Alvorada, sendo estes dois os últimos livros a serem adaptados respectivamente. Fechando o compilado temos A Cadeira de Prata e A Última Batalha.

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Levando em consideração a crença de C. S. Lewis, podemos perceber que As Crônicas de Nárnia estão repletas de simbologia e referências ao Cristianismo desde a sua concepção. Durante a leitura, pude reparar em diversos paralelos com passagens e livros da Bíblia, passando de Gênesis ao Apocalipse, fazendo alusões à crucificação de Cristo, a falsos profetas e mostrando que os planos divinos seguem sua própria lógica, por mais que esta não seja clara para nós.

A maior representação desse simbolismo cristão está na figura do poderoso Aslam e na fé que os narnianos depositam nele. Todos os sete livros giram em torno do imponente Leão e mostram sua importância até quando ele não está em cena. Ao mesmo tempo em que inspira coragem e admiração, Aslam também é motivo de respeito e temor por parte de seus aliados e inimigos. Ainda assim, seu senso de justiça prevalece a todo instante, como fica evidente no final de O Cavalo e Seu Menino.

Mesmo tendo características típicas de um livro infantil, As Crônicas de Nárnia não subestimam a capacidade de seus leitores para discernir entre bem e mal. Por mais que não haja violência explicita, Lewis não omite a morte em sua narrativa nem quando ela é causada pelos mocinhos. Isso serve para mostrar que algumas batalhas valem a pena quando travadas pelos motivos certos. Nesse contexto, a luta pela sobrevivência se faz presente em diversos momentos e os protagonistas amadurecem e evoluem ao terem que resistir aos muitos desafios e tentações, especialmente em A Viagem do Peregrino da Alvorada.

Cada um dos sete volumes tem características e personagens que o tornam único, mas o meu favorito é A Última Batalha. No capítulo final das Crônicas, testemunhamos acontecimentos preocupantes, porém também compreendemos o significado grandioso desse reino. O desfecho de um personagem em particular me surpreende pelo fato de ser triste e também polêmico entre os leitores, mas que para mim faz todo o sentido dentro da ficção e também no Cristianismo. Com isso, Lewis deixa claro seu posicionamento religioso sobre aqueles que não tem fé.

As Crônicas de Nárnia são uma viagem por terras mágicas cheias de encantos e perigos. Ainda que você não leia consciente de todos os significados cristãos que permeiam a obra, ela continuará sendo um relato de aventuras emocionantes e criativas. No entanto, para mim tudo isso ganha um contorno especial quando compreendo a verdadeira mensagem do autor por trás de tantas metáforas e alegorias fantásticas.

Adicione este livro à sua biblioteca!

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Mozer Dias

Engenheiro por formação, mas apaixonado pelo mundo da literatura e do cinema. Se eu demorar a responder, provavelmente estou ocupado lendo ou assistindo a um filme.

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