A literatura de Carlos Ruiz Zafón consegue atingir leitores de todas as idades mesmo quando sua temática é classificada para um público específico. O exemplo mais claro disso é a Trilogia da Névoa que recebe o rótulo de infanto-juvenil, mas possui diversas camadas de profundidade. Essa característica se mantém no encerramento da série com o misterioso As Luzes de Setembro.
No verão de 1937, Simone Sauvelle e seus dois filhos, Irene e Dorian, se mudam para Baía Azul, um pequeno vilarejo no litoral da Normandia. Lá, Simone começa a trabalhar como governanta na mansão Cravenmoore, residência do excêntrico fabricante de brinquedos Lazarus Jann e sua esposa enferma. Todos ficam encantados com as diversas criações de Lazarus: seres mecânicos tão complexos que parecem ter vida própria. Além do fascínio pelo lugar e pelas criaturas, Irene se apaixona pelo jovem pescador Ismael, que lhe conta sobre as misteriosas luzes que brilham em torno do farol da ilha uma vez ao ano. Porém, quando todos estão se acostumando com a nova vida, uma sombra recai sobre eles e revela segredos da antiga mansão e de seus enigmáticos habitantes.
Por mais que os livros da Trilogia da Névoa sejam independentes entre si, todos têm alguns elementos em comum. Com As Luzes de Setembro não é diferente. Aqui vemos a mesma atmosfera sombria de mistério presente em O Príncipe da Névoa e O Palácio da Meia-Noite, onde fantasmas do passado retornam em busca de vingança ou reparação por algum ato cometido há muito tempo. No centro de toda a ação, os jovens protagonistas são os que mais correm perigos tentado encontrar as respostas.
E são justamente esses perigos pelos quais eles passam que dão tom de maturidade à obra de Zafón. O perigo de morte é real e os atos violentos e cruéis estão presentes sem subestimar a capacidade dos leitores de absorvê-los. Temas profundos também ganham destaque como o abandono, o luto e a depressão. Isso, descrito com a sensibilidade única do autor, vai além da superficialidade de uma história de aventura infantil.
A trama apresenta diversas revelações e reviravoltas que sustentam o clima de terror e suspense e prende a atenção do começo ao fim. Quem conhece a outra série escrita por Zafón – O Cemitério dos Livros Esquecidos – também se surpreenderá ao encontrar alguns nomes familiares. E, como já era esperado, a conclusão é comovente e poética, levando o leitor a pensar sobre o que acabou de ler mesmo após fechar o livro.
As Luzes de Setembro é mais uma prova do poder da escrita de Carlos Ruiz Zafón e sua capacidade de envolver seus leitores em uma aura mágica e sombria de mistério e fantasia. Indo além de uma simples narrativa infanto-juvenil, esse livro consegue agradar pessoas de várias idades e com diversos gostos literários.
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