Body Cam é uma mistura interessante de filme policial com terror sobrenatural. Não é a coisa mais incomum do mundo pegar dois gêneros e misturá-los numa única história, mas sempre que isso acontece temos uma sensação de novidade e a esperança de ver algo que traga originalidade para, pelo menos, um dos dois estilos que estão na mistura.

Uma oficial está sofrendo com o luto de seu filho e isso está começando a interferir em seu trabalho de patrulha. Certa noite ela e seu parceiro encontram um policial morto ao lado de sua viatura, e por algum motivo somente ela consegue ver a gravação da câmera da viatura que mostra um evento sobrenatural.

O filme tem como plano de fundo o dilema da brutalidade policial nos EUA. De um lado temos a população revoltada porque diversos jovens (negros em sua maioria) são cruelmente abatidos por policiais sem nenhum motivo. Mas na contra mão temos uma polícia muitas vezes mal paga e exposta a uma violência que destrói sua estabilidade emocional e mental, além de não existir amparo do sistema público que realmente funcione.

O problema é que o roteiro falha em criar situações onde esse conflito fica bem exposto. Sempre que temos um embate de população VS policiais parece que basta alguém uniformizado aparecer para que todos os civis em volta comecem a atacar os policiais, mesmo que não exista justificativa alguma. Não significa que tais problemas não existam no mundo real, mas o longa falha ao retrata-los de forma minimante realista.

Existem outros dois problemas com o roteiro desse filme. Em determinado momento temos dois bandidos invadindo uma mercearia e a coisa toda é escrita da forma mais irreal possível. Parece que um outro filme, com um tom completamente diferente, começou a rodar no meio daquele que você já está assistindo. O segundo problema é que a forma que encontraram para dar ênfase no luto da protagonista é cafona até dizer chega. É como se o filme estivesse desesperado para fazer você sentir pena pela personagem principal

O diretor do projeto é Malik Vitthal. Você talvez possa conhecê-lo de seu trabalho na Netflix com Sonhos Imperiais. O roteiro é assinado por Nicholas McCarthy e Richmond Riedel. A protagonista é vivida por Mary J. Blige e provavelmente você pode ter visto seu trabalho em produções como The Umbrella Academy, How to Get Away with Murder e Empire.

O ponto positivo está na mistura da investigação policial com o terror, apesar de o primeiro gênero ser aquele que se destaca mais. Talvez esse seja um bom titulo para aqueles que não gostam tanto assim de terror. Esse não é aquele tipo de filme que vai jogar coisas na sua cara ou tentar te pegar de surpresa com sons altos. O clímax também é bem eficiente e certamente é a melhor parte do filme.

Outro problema são os efeitos especiais, que realmente são de baixíssimo orçamento, mas o diretor é inteligente o suficiente para não se apoiar muito neles. Enquanto isso o roteiro é corajoso em pegar um assunto bem espinhoso e mostrar os dois lados dessa moeda e focar em dramas reais.

Acredito que pode valer para aqueles que possuem receio de ver um filme de terror. Não é aquele tipo de história que vai te deixar com medo à noite e possuiu uns comentários sociais interessantes. Mas apesar disso, não é um dos melhores longas e talvez você o esqueça em breve.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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