“Resgate” é o tipo de filme feito para quem gosta de ação. Estrelado por Chris Hemsworth, o longa é um misto de sequências modernas de ação (inspiradas nos filmes de Jason Bourne e John Wick) com um roteiro digno dos filmes de brucutus da década de 80. E se utiliza dos mais usuais clichês do gênero em suas quase 2 horas de filme.
Ovi Mahajan (Rudhraksh Jaiswal), filho adolescente de um gangster de Mumbai preso, é sequestrado pelo rival de seu pai, Amir (Priyanshu Painyuli), que coloca o protetor de Ovi, Saju (Randeep Hooda) em uma posição de ter sua família ameaçada se não trouxer o menino de volta. Sem poder pagar por um resgate completo, contrata o mercenário Tyler Rake (Chris Hemsworth) para tentar resgatar Ovi e dar um “jeito” depois.
Resgate foi escrito pelo co-diretor de “Vingadores: Ultimato“, Joe Russo. É uma matança generalizada: as cabeças são maltratadas, os ossos quebrados se projetam e os corpos são arremessados dos prédios e crivados de balas. Não que eu esteja reclamando, considerando o quão bem benfeita são as cenas e os planos sequências que Sam Hargrove enquadra a carnificina, em pedaços bem editados e fáceis de seguir.
O personagem de Hemsworth tem mais clichês de filmes de ação do que Comando para Matar. Rake é imperturbável, mesmo em perigo extremo. Ele tem um segredo trágico, ele nunca perde uma chance. Mas ele também tem um lado mais suave, um instinto paterno que surge quando sua missão de resgate dá violentamente errado. Ele se recusa a abandonar o Ovi mesmo depois que o garoto se torna descartável. Essa é a única coisa que tenta dar uma visão “heroica” a Rake, mas é pouco debatida no filme.
Ajudando a arruinar o dia de Rake e aumentar a contagem de corpos é Saju, que está executando seu próprio plano de extração paralela a pedido de seu chefe. Todos figuram com destaque na empolgante peça central do filme, uma sequência turbulenta em que o diretor evoca o truque de “1917” do ano passado. Ele começa e termina um plano sequência com acidentes de carro, garantindo à Netflix um bom número de replays nessa parte do longa. E, mais importante, Hargrove utiliza o recurso e o abandona antes que ele se torne desagradável (diferente de outros filmes).
O roteiro de Russo se move rápido, mas seus vilões são planos e unidimensionais. Amir nada mais é do que um sádico irritado que tem seus capangas atirando crianças dos prédios quando ele não os está contratando como assassinos. A tentativa do filme de gerar simpatia pela situação de Rake sai como uma entrevista de emprego, pois Ovi o enche de perguntas sobre seu passado, enquanto Hemsworth tenta ser machão e emocionalmente ferido. O que ele quase consegue.
Durante todo o caos, Ovi é tratado menos como uma criança angustiada e mais como o tipo de criança que você encontraria em um filme de Shane Black. Jaiswal e Hemsworth têm até uma química interessante que tenta suavizar a ótica desconfortável de um cara branco que explode violentamente através de um mar de vilões “marrons”. Vilões armados, mas Rake apenas os vence. “Você não pode culpá-lo por isso; eles estão tentando matá-lo!” Mas me pergunto se esse elemento seria retratado com indiferença se Rake estivesse na Noruega, ao invés vez da Índia ou em Bangladesh. Algo a considerar enquanto você desfruta da carnificina.