A lenda mexicana da Chorona é um clássico folclórico e é bem possível que você já tenha esbarrado com ela por ai. A lenda base (que pode mudar dependendo da demografia) é de que ela teve dois filhos com o amor de sua vida, mas que logo foi trocada por uma mulher mais jovem. Cega pelo ódio ela decide tirar do ex-marido o que ele mais amava: seus filhos. Assim ela acaba afogando os dois meninos num rio, e logo em seguida é esmagada pela culpa e se mata. Seu espírito passa a vagar buscando filhos para substituir aqueles que ela matou, sequestrando crianças de suas camas.

Curiosamente essa lenda pode ser encontrada em diversos pontos do mundo, onde o arquétipo feminino sempre está em estado de luto e, de certa forma, enlouquece trazendo a morte. Exemplo semelhante são as banshee, que nada mais são do que espíritos femininos que podem ser encontrados em rios e lagos da Escócia lavando panos brancos manchados de sangue. Diz à lenda que quem olha para elas está fadado a morrer em breve e que o choro destes seres pode levar a loucura.

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A Maldição da Chorona se passa nos anos 70 onde a assistente social (recém-viúva), interpretada por Linda Cardellini, acaba esbarrando com a lenda da Chorona e acidentalmente coloca seus dois filhos em risco. O longa deixa bem claro que está inserido dentro do universo de filmes de Invocação do Mal, mas pode ser visto de forma completamente independente. Michael Chaves é o diretor do filme, sendo este o seu primeiro longa, e que até o momento está cotado para dirigir Invocação do Mal 3. O roteiro é assinado por Mikki Daughtry e Tobias Iaconis que também são relativamente inéditos no cinema, tendo escritos juntos o filme
A Cinco Passos de Você, mas nada, além disso.

O grande problema desse filme é que ele não se esforça em nenhum momento em ser algo além de genérico. Apesar da base da história ser intrigante por natureza, não existe nenhum trabalho em especial para deixar essa trama mais interessante. O roteiro é muito desleixado em seu primeiro ato, além de possuir pouquíssima coerência interna. A direção se baseia muito em jumpscare, algo que é muito criticado pelos fãs do gênero (e eu me incluo nessa), mas admito que aqui ele tenha seus momentos no início do filme, mas logo acaba ficando desgastado e por fim perde sua força. Existem boas ideias na direção de Michael Chaves, mas elas estão perdidas nos clichês do roteiro e na pouca criatividade do esqueleto da historia em si.

O visual da Chorona em si é interessante, como a maioria dos monstros deste universo de Invocação do Mal, mas sua exposição é excessiva e repetitiva em cenas pouco inspiradas. A ideia de uma mulher de branco macabra parece ter um impacto profundo no subconsciente humano que, por consequência, faz o filme ser quase que instintivamente instigante. Isso só torna mais frustrante quando temos um filme fraco. Mas veja bem, ele não chega a ser ruim, só é bastante comum. Se você não tem o costume de ver esse gênero talvez tudo aqui lhe pareça mais fresco, mas se já percorreu uma certa estrada por esses caminhos sombrios talvez fique entediado.

Outro problema sério é a forma como as crianças do filme se comportam, tanto em atitudes quanto em diálogos, e que quase jogam a história no chão. Em contra partida o personagem interpretado por Raymond Cruz tem uma participação curta, mas muito interessante e sendo um dos poucos que foge do óbvio.

No fim das contas A Maldição da Chorona é só mais um filme de terror que você verá e logo se esquecerá. Entretanto talvez exista um verdadeiro potencial em Raymond Cruz que pode fazer bem em Invocação do Mal 3, mas será necessário um roteiro muito melhor.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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