Clive Barker é um dos grandes nomes do terror, tanto na literatura quanto no cinema. Seu trabalho mais icônico no audiovisual certamente é Hellraiser de 1987, onde ele mesmo dirigiu e adaptou o roteiro do livro que havia escrito. Com pouco orçamento, mas muito talento, ele criou um ícone do terror que por consequência deu luz a uma franquia de qualidade duvidosa em alguns aspectos, mas com esse inegável primeiro filme de qualidade ímpar. Essa franquia saiu das mãos do autor original e ficou a mercê de ser constantemente repassada por estúdios pequenos que realizavam novos filmes direto para vídeo com o intuito de manter o contrato vigente.

Mas agora a franquia volta do zero com esse reboot, sendo um dos produtores o próprio Barker. A direção é assinada por David Bruckner que tem um histórico interessante em filmes de terror. O roteiro passou por diversas mãos, sendo uma delas o David S. Goyer conhecido pela trilogia do Nolan do Batman e outras histórias bem marcantes. O filme foi lançado diretamente para streming, nos EUA o Hulu, mas no Brasil ele ainda não tem data de estreia em alguma plataforma.

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A trama gira ao redor de Riley, uma jovem que está tentando se recuperar de um vício em drogas. Ela mora com o irmão e alguns amigos, mas sempre acaba entrando em conflito com eles por causa de suas recaídas. Em busca de ganhar dinheiro fácil ela aceita a sugestão do namorado de tentar assaltar um deposito semiabandonado que pode ter algo de valioso. Lá eles acabam encontrando um misterioso quebra-cabeça que os leva numa espiral de acontecimentos que desafiam a realidade.

Comparado aos filmes da época em que a franquia estava relegada a produções de qualidade questionável, esse é um bom projeto e com uma execução interessante. Entretanto não chega perto do original de 1987 e o livro que deu vida a tudo. Mas nem por isso não significa que não vale a pena conferir. Existe uma atmosfera interessante, boas atuações e se mantem fiel a alma e temas das histórias originais.

O ritmo da trama é bem lento e a história demora a chegar ao seu cerne. Para aqueles acostumados com a franquia, o mistério da primeira metade do filme pode acabar sendo um tanto monótono, já que nós sabemos para onde os personagens estão se encaminhando. Os efeitos práticos são bem interessantes, mas muitas vezes falta uma fotografia que destaca as escolhas de design dos cenobitas. Visualmente esse filme poderia ter sido muito melhor do que ele realmente é. Existia muito potencial, mas que foi subaproveitado.

É possível que para alguns espectadores exista certa dificuldade de se conectar com a protagonista, vivida por Odessa A’zion, já que ela constantemente soa cruel e altamente irresponsável para com aqueles que a cercam. Isso não só se dá pelo momento difícil que ela vem passando, mas também é um conceito bem comum de histórias de terror, que buscam transformar a personalidade, ou um problema, através dos horrores vivenciados. Um dos pontos positivos são os diálogos, que passam muita verdade e em pouco tempo você acredita na relação dos personagens.

Porém existem alguns problemas também. Num filme de duas horas, parece que cerca de um terço dele tem pouca função de existir ou se arrasta. Também não podemos dizer que existem muitas surpresas. Mesmo que não exista um grande conhecimento sobre a mitologia, um fã de filmes de terror provavelmente não será pego no contra pé com as revelações do terceiro ato. 

Para os fãs de longa data é um filme bem vindo e que diverte. Para os fãs de terror pode ser algo interessante, mas caso não tenha visto o primeiro recomendo fortemente que o faça. Para o padrão que às vezes vemos de filmes lançados direto para streamings esse está um pouco acima da média, apesar de não ser excelente.

Assista ao trailer:

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Hellraiser (2022)

7.0 Bom!
  • Nota 7
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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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