Um filme singelo que fala sobre amadurecimento e inclusão social de pessoas com deficiência auditiva. Com estas premissas CODA: No Ritmo do Coração emociona os espectadores e conquista a Academia de Cinema faturando o Oscar 2022 de Melhor Filme, mesmo sem cair naquele drama pesado costumeiro dos filmes premiados. O longa, que é uma refilmagem em inglês do filme francês La Famille Bélier lançado em 2014, fez história também por ser a primeira produção lançada em streaming (Apple TV, no caso) a faturar a estatueta de Melhor Filme. 

Ruby, de 17 anos, é a única pessoa que ouve em uma família de surdos. Quando o negócio de seus pais é ameaçado, ela fica dividida entre seu amor pela música e suas obrigações. CODA: No Ritmo do Coração foi escrito e dirigido por Sian Heder, que faz um bom trabalho em equilibrar o tom de comédia dramática do filme e também de adaptar a trama do filme original francês. Com relação a produção e edição o filme é competente, mas sem trazer nada de muito relevante nestes quesitos com a exceção de uma coisa: utilizar-se de atores com deficiência auditiva para os papéis dos personagens surdos. São eles, Troy Kotsur, que faturou o Oscar de Ator Coadjuvante (sendo o primeiro ator surdo a realizar o feito), Marlee Matlin e Daniel Durant. Os três atores garantiram não só um bom elenco de apoio como brilharam em suas interpretações nos momentos mais impactantes.

No Ritmo do Coração toca em questões interessantes e pouco conhecidas sobre as crianças CODA (abreviação de Child of Deaf Adults), ou seja, crianças de pais surdos, e seus possíveis impactos na vida familiar. O filme foca nas questões de Ruby, seu dia-a-dia como uma estudante adolescente que se divide entre ajudar seus pais e viver seu sonho de cantar, mas sem deixar de mostrar as dificuldades de seus parentes vivendo e trabalhando com a deficiência auditiva, e que dependem muito da filha para se comunicar com o mundo. 

Como Ruby, a protagonista, temos a Emilia Jones no papel que se sai maravilhosamente bem em passar o aspecto ainda jovem e indeciso da personagem, mas que vive uma jornada de amadurecimento e descoberta, e se encontra ao soltar a voz e cantar. O filme aborda os aspectos dessa ironia de uma pessoa ouvinte que cresceu no lar de pessoas surdas ter tanto talento para cantar. Tanto na perspectiva de Ruby, que cresceu sem ter o feedback familiar do seu talento, como dos seus próprios parentes, que não podiam reconhecer o talento de sua caçula devido às suas limitações. Limitações estas que são exploradas no relacionamento entre irmão e irmã, pais e filha, e também com o próprio negócio familiar. No Ritmo do Coração traz à tona um debate interessante do quanto a família tem que se adaptar ao mundo e o quanto é que o mundo é quem deveria se adaptar a eles.

O longa estabelece tais reflexões sem usar de grandes acontecimentos apelativos, que muitas vezes são utilizados para causar as curvas dramáticas da narrativa. Mantendo assim um debate dentro do clima leve e singelo da obra, que mostra que é capaz de emocionar sem apelar. Esta limitação de comunicação vira motivação para reinterpretações dos personagens com suas próprias relações, que aprendem não só a contemplar o talento de Ruby, como também a própria protagonista aprende a valorizar e realizar a sua própria forma de se comunicar com sua família e com o mundo, através de sua ‘voz’ do coração.

No Ritmo do Coração não é necessariamente o melhor filme da temporada, mas chegou ao topo com um excelente argumento, uma curva de amadurecimento eficaz e uma produção visivelmente feita com muito carinho e sensibilidade de todos os envolvidos. 

CODA: NO Ritmo do Coração (2021)

8.5 Ótimo!
  • Nota 8.5
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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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