O Livro de Boba Fett estreou no final de dezembro na Disney+ contando com 7 episódios no total, prometendo contar a história de como o famoso caçador de recompensas se tornou o novo chefe do crime de Tatooine, no lugar de Bib Fortuna e de seu antecessor Jaba, o Hutt – como vimos na cena pós crédito do último episódio da segunda temporada de Mandaloriano. E entre idas e vindas, de flashbacks à participações especiais, se desse pra resumir O Livro de Boba Fett em uma palavra, essa palavra seria “desnecessário“.

A série é dirigida na maioria de seus episódios por Robert Rodriguez que constrói uma narrativa interpolada alternando o presente como o novo senhor do crime com os flashbacks na “camara de bacta” onde ele relembra seu passado recente após ser derrotado por Luke Skywalker (em O Retorno de Jedi).  É inegável que o O Livro de Boba Fett se utiliza dos clichês do “homem branco perdido na selva que se reencontra em uma tribo indígena“, que seriam os Tusken Raiders, o povo da areia. Temos até direito a rodinha na fogueira e a viagem astral em um novo “desabrochar” de Boba Fett (Temuera Morrison).

E esses flashbacks são uns dos poucos momentos interessantes quando o foco da série é o próprio protagonista. Pois quando retornamos ao presente em que o Boba Fett ao lado de Fennec Shand (Ming-Na Wen) pretendem governar a cidade de Mos Espa inteira no mínimo causa uma grande suspenção de descrença Tanto pela motivação de Boba (que teria deixado seu passado de caçador em sua estadia com os Tusken), tanto pela credibilidade de apenas um homem de meia idade e sua comparsa garantir domínio em um cargo que exige ser implacável. E isto é justamente o que eles não são, principalmente Boba Fett que se preocupa muito mais em montar um fraco suporte ao seu poder através do diálogo e compaixão. Sim, mesmo objetivando ser um “senhor do crime”. Soa incoerente, não? 

Inclusive a própria lealdade de Fennec é um tanto questionável. Ok, que ela tem um sentimento de gratidão ao Boba, mas nada na construção do relacionamento dos dois justifica tal submissão. Até mesmo por Fennec ser mais durona e consideravelmente mais habilidosa que ele. Aliás, estas são algumas das várias questões que temos com o nosso protagonista além da falta de coerência. Temuera Morrison não está bem para o papel, parecendo estar sem o carisma necessário e aparentemente sem a idade correta para o personagem. Certo, mas isso não é tudo. A própria construção do protagonista pela série é falha.

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Boba Fett ao longo dos episódios é traído, evitado, derrotado, enganado por quase todos da cidade. E quase tudo fica por isso mesmo, parecendo mais um “cachorro morto” do que um senhor do crime (como a série quer que acreditemos). Aparentemente a Disney quis transforma-lo em um personagem totalmente benevolente (como sempre), mas não pensaram que o argumento principal da série (senhor do crime) entraria em choque com tal comportamento. A falta de envolvimento do personagem com o espectador foi latente, e parece que foi até devido a isto que os produtores resolveram mudar o foco total no antepenúltimo e penúltimo episódio, onde não vemos nada de Boba Fett. Episódios estes que não foram dirigidos por Rodriguez. E o mais irônico é que estes são os melhores episódios da série, com participações especiais de personagens importantes da franquia Star Wars.

Quando retornamos à trama de Tatooine no season finale nos deparamos com um homem com poucos recursos lutando contra um cartel intergalático de especiarias, dentro de um joguinho político do mais inocente possível com os “líderes” da cidade. Não tinha como manter um nível de interesse satisfatório para tal cenário.  Com direito a uma gangue de motos à lá super sentai que daria vergonha até mesmo para o mais baleado dos tokusatsus. No fim somos apresentados a um vilão conhecido do universo de Star Wars, até para que se faça jus para um finale que não seja apenas bang-bang contra máquinas. Mas que, no fim, foi quase isso mesmo. 

O Livro de Boba Fett dá a impressão que não houve paixão envolvida na produção. Foi escrito por obrigação. Obrigação de surfar na onda do sucesso de Mandaloriano, trazendo mais um personagem igual a ele porém com muito menos carisma e interesse. Pensando na franquia como um todo percebemos que os papéis se inverteram, Boba Fett que era um personagem adorado por fãs, mesmo sem ter muita história nos filmes, acabou ganhando sua própria série graças ao personagem que dele se originou. E a cópia se tornou muito melhor que o “original”. E com o “plus” de descobrirmos como Boba Fett sobreviveu após ser engolido pelo Sarlacc, e vendo como ele escapou, seria melhor termos ficado sem saber mesmo.

3.5 Ruim!
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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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