Imagine um filme que tenta sintetizar toda a lógica de “desafios da internet que não existem de verdade” como Baleia Azul e Momo, e, ao mesmo tempo, ser sobre uma creepypasta na linha de Slenderman ou Jack the Killer. Batendo tudo isso no liquidificador, com alguns elementos dos filmes de terror usuais, temos o longa Grimcutty, que no Brasil recebeu o hilário título de O Meme do Mal. A produção foi lançada diretamente para o serviço de streaming Hulu dentro das novidades planejadas para o Halloween.

A jovem Asha vem tendo dificuldade com seus pais que cada vez mais desejam controlar o acesso dela a internet e aparelhos eletrônicos. Paralelamente, uma espécie de lenda urbana começa a se espalhar sobre o tal Grimcutty. Uma foto bizarra que de alguma maneira obriga jovens a se violentarem com cortes e em alguns momentos até se matarem ou ferirem outros ao seu redor. Logo Asha começa a ver esse estranho mostro que tenta machucá-la, porém somente ela é capaz de notar sua presença.

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O que mais chama a atenção, logo de cara, é o fato de que o diretor e roteirista, John Ross simplesmente pegou a lenda urbana da Momo, que tivemos a alguns anos atrás, e alterou o nome de sua criatura e pronto! O problema é que essa história já era ridícula por si própria no mundo real e quando a vemos no filme ela parece ainda mais boba. Os pais entram em um modo de puro pavor e paranoia completa pelo simples fato de ver uma foto. Em nenhum momento é explicado como uma mera foto faria um jovem se cortar ou cometer qualquer ato perigoso. Em questão de segundos uma cidade inteira está em pandemônio total por causa de uma única foto, que nada mais é do que um rosto esquisito.

O fato do design escolhido para o tal Grimcutty ser péssimo também não ajuda. Ele é uma mistura de Jack the Killer com a própria Momo, mas não de uma maneira minimamente marcante. O CGI utilizado é da pior qualidade possível a ponto dele parecer recortado de outro filme e inserido num contexto completamente diferente. Sua movimentação não possuiu peso, como se estivéssemos vendo um desenho animado interagindo com live action. É impossível sentir qualquer medo ou tensão diante da sua presença.

Mas o que temos nesse filme que o impede de ser um desastre completo (apesar dele ainda ser ruim)? Os atores estão fazendo um bom trabalho com o texto que lhes foi dado. O nome mais famoso no elenco é o Usman Ally, que tem o papel do pai paranoico. Sara Wolfkind vive a protagonista e realmente mostra uma variedade de emoções intensas e situações complicadas de se vivenciar. Os outros atores também mantêm o nível alto nesse quesito, fazendo com que toda essa trama fique um pouco mais aceitável.

A verdade é que o roteiro de John Ross vai melhorando gradativamente conforme nos aproximamos do terceiro ato. Passamos a entender qual é a mensagem do filme, que até pode ser nobre, mas mal executada. Existe uma boa ideia sobre histeria coletiva e como algumas ideias se propagam na internet, mas acaba ficando soterrada no meio de diálogos bobos e alguns personagens muito estereotipados.

Esses estereótipos se dão nas gerações. Basicamente temos dois grupos nesta história, adultos que não entendem como a internet funciona e adolescentes viciados em celulares e cheios de problemas de ansiedade e estresse. Entretanto esse primeiro grupo é escrito à beira da estupidez completa a ponto de ficar difícil não achar graça num filme que deveria ser de terror. Apesar dos jovens também serem estereotipados, existe um pouco mais de verdade em suas ações e em alguns diálogos. Não chega a ser uma grande representação da juventude atual, mas é minimamente eficiente.

Um filme que só tem valor para aqueles que são muito interessados neste universo de lendas urbanas da internet e desejam ver algo que explora essa área. Para os que gostam de filmes de terror, talvez seja interessante para ver com os amigos enquanto se dá umas risadas. Fora a isso, não existe muito para se aproveitar.

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O Meme do Mal

4.0 Fraco
  • Nota 4
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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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