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E vamos para mais uma produção conjunta de Amazon com Blumhouse. Agora temos um filme genuinamente de terror e que se enquadra perfeitamente com a ideia de ser lançado como um grande pacote de comemoração de Halloween. Noturno faz parte do curioso subgênero de “filmes sobre música onde o protagonista é levado ao limite” como Whiplash: Em Busca da Perfeição e até mesmo Suspiria.

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Duas irmãs sonham em ser grandes pianistas clássicas, mas uma tem muito mais sucesso que a outra. Uma é convidada para a escola musical de renome, tem um namorado e ganha popularidade enquanto que a outra , a nossa protagonista, parece seguir eternamente em segundo plano. As coisas começam a mudar quando um caderno misterioso surge e parece conter um ritual que levará a irmã invejosa para os patamares que sempre desejou alcançar.

Tanto a direção quanto o roteiro são assinados por Zu Quirke e esse é seu primeiro trabalho num longa nas duas posições. Essa história possuiu um desafio muito difícil que é fazer com que estejamos do lado de uma protagonista que está fazendo coisas moralmente questionáveis. Em algumas situações ela faz coisas certas pelos motivos errados e em outras ocasiões faz apenas coisas questionáveis, mas num contexto que nos faz entender suas motivações. Só o fato do roteiro ser bem sucedido nisso já é muito admirável, pois é algo que é muito difícil de se conseguir.

A parte sobrenatural da trama é bem sutil e pode lembrar alguns outros filmes como Hereditário e A Bruxa, apesar de não ter o mesmo clima opressivo. Entretanto, acho que é muito bem sucedido em criar uma situação de pacto com demônio original e familiar ao mesmo tempo. A direção tem ótimas sacadas visuais e simbolismos interessantes. Existe substância aqui que pode te fazer ficar pensando no que determinadas imagens e cenas significam, mas sem apelar para um hermetismo exagerado só para parecer mais inteligente e complexo do que realmente é.

O terceiro ato pode parecer excessivamente misterioso e com um final sem sentido, mas acredito que se você prestar bastante atenção nas metáforas e simbolismos criados ao longo do filme ficará bastante satisfeito com a esperteza e simplicidade que a direção e o roteiro encontraram para demostrar a conclusão de arco da protagonista.

As atuações são bem competentes e Sydney Sweeney consegue carregar um filme centrado em sua figura. Talvez você já a conheça de O Conto da Aia e Objetos Cortantes. O que pode colocar esse filme para baixo é o fato dele em alguns momentos ser muito parado, numa tentativa falha de criar um clima sombrio. Alguns diálogos também são muito explanados com personagens dizendo coisas de forma muito literal, o que é estranho para um filme que de modo geral é bem sutil.

O único personagem que é realmente escrito de forma inconsistente é a figura do professor, vivido pelo ator Ivan Shaw. Não sei dizer se a função desse personagem é passar a mensagem do filme como um todo ou se é somente como esse personagem em específico pensa. Temos um momento onde ele possuiu um monólogo sobre como a música clássica é superior a todas as outras músicas e como aqueles que a tocam são seres superiores de modo geral. Alguns momentos do filme dão a entender que talvez essa não seja a mensagem geral, mas isso não fica totalmente claro.

O que temos é um bom filme sobre como a ambição e competitividade facilmente caem para algo destrutivo e negativo. Zu Quirke tem uma boa estreia na direção e no roteiro e talvez possa trazer mais coisas interessantes no futuro. Um nome para se ficar atento.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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