Com uma grande inovação de marketing a Netflix anunciou no intervalo do Superbowl 2018 que o filme Cloverfield Paradox entraria em seu catálogo logo após a partida. Enquanto que vários outros filmes (como Deadpool, Han Solo e outros) fizeram seus anúncios também no mesmo período do evento para um longa que só estreará meses depois, a reprodutora via streaming fez algo que só ela mesma poderia fazer: anunciar um filme que está há alguns minutos de você poder vê-lo no conforto de sua casa. E ainda, um filme da franquia Cloverfield, que apesar de não ser uma das mais conhecidas, arrasta uma boa quantidade de fãs de suas histórias que misturam drama e suspense com uma “invasão” alienígena de pano de fundo. Cloverfield Paradox é o terceiro filme da franquia que é produzida pela Bad Robot de J. J. Abrams (que dispensa comentários) e dirigida por Julius Onah (que tem um currículo muito maior como produtor do que diretor). Porém Paradox é, de longe, o filme mais fraco da franquia.

Em 2028 a Terra vive uma crise de energia que está levando a existência da sociedade que conhecemos ao limite. 7 astronautas e cientistas vão para uma estação espacial fazer testes com o Shepard (acelerador de partículas) que proporcionaria à Terra uma fonte inesgotável de energia caso funcione, porém os especialistas temem que ele crie o “Paradoxo Cloverfield”, abrindo portais para universos paralelos permitindo que horrores coloquem em xeque a vida na Terra. Após muitas tentativas frustradas (2 anos), os cientistas obtém êxito em sua ativação, porém causando o tal paradoxo em que as dimensões da realidade se cruzam, o que ocasiona a aparição de uma nova tripulante.

Logo de cara já observamos nessa breve sinopse um certo clichê: 7 tripulantes e a chegada de 1 oitavo desconhecido. Qualquer semelhança a Alien O Oitavo Passageiro não é por acaso. Não só pela quantidade, mas pelo jargão que o novo “tripulante” causará problemas aos demais. Aliás clichê é algo que praticamente está inerente ao roteiro deste filme. Isto posto vamos à premissa do filme. Crise energética é um assunto interessante, e a criação de uma acelerador de partículas numa estação espacial também. E para o roteiro é um bom artifício para que a história passe por mudanças. O problema está na explicação. Quando aparece os cameos explicando que o Shepard poderia causar um bug na linha dimensional e temporal, o filme perde bastante de seu suspense, aquela aura de mexer com o desconhecido limita-se em paredes falsas e sumiços de coisas, fazendo com que o  longa fique banal demais, e saber que toda a história dos outros filmes foi motivada por isso é algo que lesa a franquia como um todo.

O filme foi baseado em God Particle, um script especulativo feito por Oren Uziel que trazia o argumento original da trama da equipe na estação espacial, mas que era desconectado da franquia Cloverfield. Somente durante a produção, J.J. Abrams decidiu fazer as conexões para que o filme se aliasse aos outros filmes Cloverfield. Algo parecido com isso já havia ocorrido (e dado certo) no segundo filme da franquia (10 Cloverfield Lane), que claramente era uma história de encarceramento que tomou proporções diferentes no final. Porém a diferença é que em Cloverfield Paradox não existe a surpresa, e somos sufocados por uma narrativa fria e personagens descartáveis.

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Para nos fazer importarmos com pelo menos algum tripulante e com o povo na Terra, Cloverfield Paradox acompanha a história do casal Ava Hamilton (Gugu Mbatha-Raw), que está na Estação Espacial, e Michael (Roger Davies), seu marido que ficou na Terra. Com o passar da história sabemos do drama deles, o que motivará algumas decisões estúpidas de Ava no terço final do longa. Gugu (a atriz mais promissora do elenco) corresponde bem às expectativas depositadas nela, mas também é a única pessoa que foi exigida a algo mais elaborado de atuação no elenco.

Os outros são apenas estereótipos batidos de tripulantes de naves espaciais (inclusive o bom Daniel Bruhl, que está limitadíssimo no filme), que desta vez vieram representando os países envolvidos. O comandante americano atencioso, porém burro. Os cientistas frios (um alemão e uma chinesa) e egoístas. O russo esquentadinho. O irlandês da manutenção extrovertido. Tínhamos até um brasileiro, o médico bonzinho, chamado de “Monk” (que inglês significa monge, mas que parece mais uma abreviação de “monkey”) deixando uma pontinha de mau gosto.

Com relação a tal futuro, o mundo ainda é bastante parecido com o nosso. O filme não quis ser muito inovador em tecnologias diferentes, mostra apenas um “durepoxi auto-moldável” para consertar a nave. Porém ainda usamos Skype de péssima conexão neste filme e mantemos alguns bunkers em casa. A principal evolução é na questão da humanidade ser capaz de montar um acelerador de partículas gigante no espaço que poderia ser capaz de abrir um buraco negro ou causar o paradoxo das dimensões que é fracamente explicada no longa, transformando-se em um erro (seria muito melhor se só soubéssemos disso no final). Deixando um gosto ainda mais amargo quando lembramos que esta explicação é a motivação de todos os acontecimentos da franquia Cloverfield, mesmo que em momentos e espaços diferentes.

Após a ativação do Shepard os eventos começam a mostrar que algo estava realmente diferente, como o próprio filme já havia nos alertado de forma burra. E isso fica bem claro com a aparição da oitava passageira, Debicki (Mina Jensen). Acabamos por saber que eles estavam em um mundo paralelo, do outro lado do Sol. O que ocasiona efeitos materiais desastrosos na nave: desaparecimentos de objetos e coisas que reaparecem em lugares bizarros; um braço perdido que ainda se movimenta. Tudo em uma forçação de narrativa que faz que tenhamos saudades do mediano Enigma do Horizonte. Enquanto isso o Paradoxo trouxe outras consequências para a Terra da dimensão original, que passa a sofrer ataques de algo misterioso. O que acarreta num estrago ainda maior para a franquia Cloverfield.

O filme mostra uma resolução capenga em que uma cientista passa a agir como uma exterminadora, e que a protagonista tem uma mudança de rumo baseada em nada, pois de uma hora para outra Ava decide que não queria mais ver os seus filhos da outra dimensão, se transformando na “final girl” de um suspense bem fraco. E aquele take final que tenta unir os filmes da franquia de uma vez chega a ser triste, parecendo muito mais aquele final surpresa desolador de filme de terror meia-boca.

Cloverfield Paradox é um filme que além de não ter identidade com a franquia, não tem nem a própria. Parecendo mais um remendo de clichês numa bagunça dimensional forçada.

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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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