Desde que a Marvel iniciou o seu projeto de universo compartilhado isso se tornou um padrão para a maioria dos estúdios americanos. Apesar da maioria deles terem falhado nesta empreitada, a Warner conseguiu um relativo sucesso com Invocação do Mal e seus derivados, mesmo que seu objetivo principal tenha sido criar algo sólido com os personagens da DC. As aventuras sobrenaturais do casal Warren encontraram um local interessante no meio do circuito pop, algo relativamente difícil no gênero de filmes de terror. Os fãs mais radicais do gênero tendem a criticar estas produções justamente por elas serem voltadas para o público geral, mas é inegável que esses filmes estão ganhando espaço no coração do público geral que até então não dava tanto atenção ao terror.

Em todos os outros filmes do universo Invocação do Mal a figura da Freira esteve presente, aparentando ser um grande ser maligno que comandava os terrores que os Warren investigavam. Este filme se propõe a mostrar a origem deste ser através da história passada na década de 50 onde uma abadia na Romênia parece estar sendo assombrada por uma entidade maligna. Cabe a um padre e a uma freira novata a missão de entender o que está acontecendo neste local isolado.

Num primeiro momento A Freira parece ser um filme que se escreve sozinho. Uma assombração assustadora num local de aspecto gótico aterrador e um pequeno grupo que precisa executar uma missão em tal local. Como um filme destes pode dar errado? Toda a fotografia, locações e maquiagem do filme são incríveis e imediatamente te transportam para o ambiente aterrador que o filme se propõe.

Mas o filme tem um grande Calcanhar de Aquiles; seu roteiro. Gary Dauberman é responsável pelo roteiro de IT, os dois filmes da Anabelle e agora este longa. Por algum motivo ele não conseguiu encontrar boas situações para fazer com que este fosse um filme interessante e verdadeiramente assustador. Mesmo com uma ótima premissa, parece que temos um grande vazio criativo que acaba sendo preenchido por uma série de cenas de susto genéricas, além de uma conclusão que não faz sentido com todo o filme e nem com o resto da franquia. Justamente por esse filme ser uma prequel ele acaba contaminando todos os outros longas com uma grande falta de lógica.

Mas talvez a grande falha deste roteiro seja a inclusão do personagem de Jonas Bloquet que destoa completamente de todo o resto. Além de trazer um humor que não casa com o clima do filme, o personagem se comporta como se estivesse numa aventura divertida da sessão da tarde. Não sei dizer se ele termina de estragar um filme que já estava capenga, ou pelo menos faz algumas piadas diante de uma história que já possui pouco sentido. Ao que me parece sua inserção na história me soa como uma decisão de produtores e estúdios que viram a necessidade de um galã cômico para não deixar o filme tão assustador.

A direção é de Corin Hardy e este é seu segundo longa. Aqui ele não demonstra grande talento e se entrega ao óbvio. Quase todos os sustos derivam do clássico mecanismo de jogar algo na sua cara e subir o volume da música. Em alguns momentos ele consegue criar um suspense com a sugestão e a sensação de iminência de que algo acontecerá a qualquer momento, mas isso logo se desfaz com algo gritando na tela. Talvez seja difícil julgar seu trabalho tendo em vista que este roteiro apresentava poucas possibilidades.

A Freira acaba sendo uma grande colagem de cenas de susto com um ótimo visual, mas uma série de situações que fazem pouca coerência interna e um final risível. Consigo pensar em alguns grupos de pessoas que poderiam aproveitar esse filme no cinema: grupos de adolescentes que vão na sessão para gritar e zoar, fãs inveterados de filmes de terror que assistem de tudo e aqueles que gostam de tomar sustos na tela grande sem necessariamente se preocuparem com a história.

Para os fãs da franquia, A Freira é um grande banho de água fria, justamente por ter sido um dos filmes mais esperados e estar altamente entrelaçado com os demais filmes. Espero que essa história não derrube a franquia como um todo, pois acredito que o casal Warren ainda pode nos assustar bastante em produções que ainda estão por vir.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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