Com a chegada de Luke Cage na Netflix muitas pessoas, que são fãs do Universo Cinematográfico da Marvel, começam a correr para a internet em busca de HQ’s do personagem (Clique aqui para conferir nossa crítica sobre a série da Netflix). Aqui no Brasil isso pode ser uma difícil tarefa já que Cage foi mal publicado em nossas terras, e até mesmo nos Estados Unidos ele é muitíssimo relegado aos cantos da editora (até agora). Decidi trazer aqui no Tarja uma boa dica de HQ do personagem para os que gostaram da série e desejam ir mais fundo.
Brian Azarello é notoriamente um grande roterista de quadrinhos e atualmente é um dos cabeças da DC, mas antes disso (em 2002) ele estava na Marvel. Os anos 90 deixaram uma grande lacuna de qualidade no mundo dos quadrinhos. A Casa das Ideias, assim como a DC, decidiu apostar em coisas mais densas e pesadas para atrair o público adulto e adolescentes, sedentos por sexo e violência. Assim surge o selo Marvel Max. Aqui no Brasil tivemos uma revista com esse exato título onde algumas maravilhas foram publicadas, como Jessica Jones por exemplo, e lá estava a mini-série Cage (pelas mãos de Brian).
Com os desenhos extremamente originais de Richard Corben a dupla decidiu contar uma história do personagem tão calcada na realidade que por vezes esquecemos que estamos no universo Marvel. Para os fãs mais atentos é possível ver alguns personagens clássicos, porem obscuros, como Lapide, Cabeça de Martelo e Montana. Mas também funciona perfeitamente para quem nunca leu nada de Cage, já que não necessita de nenhum conhecimento prévio. Entretanto não imagine que encontrará uma história de origem propriamente dita, ainda que tenha um pouco desse conceito, mas sim um caso dentro da vida do personagem.
Preciso de um parágrafo em especial para falar do trabalho de Corben. O cara faz um contraste absurdo entre algo totalmente caricato e altamente bruto, no mesmo quadro. Cage é desenhado como uma montanha de músculos enquanto outros são deformados a ponto de parecerem desenhos animados. As cores de Jose Villarrubia fazem uma mistura perfeita que cria toda a textura necessária que a história precisa – Sangue tão vermelho que daria orgulho a Tarantino. Até mesmo olhos irritados para denotar dor e violência, além de paredes e chãos ásperos, que passam a dureza do local. Azarello também merece um parabéns especial para o diálogo. Vi o cara na minha frente na ultima CCXP e devo dizer que ele não parece ser o tipo de gente que fala a linguagem do gueto, mas nesta história ele faz os personagens falarem desse forma, e, ao meu ver, um grande autor deve entrar na pele do seu personagem e falar como eles – independente de quão diferente seja dele próprio.
Temos muita violência, bastante nudez e questões urbanas extremamente localizadas em um determinado bairro. Aqui já o temos como um “herói de aluguel” trabalhando num caso de uma mãe que tem sua filha assassinada por uma bala perdida – comum para quem mora no Rio de Janeiro. O problema se mostra muito mais complexo e Cage precisa mergulhar na criminalidade que o cerca. O grande conflito está justamente em saber que Cage não deseja se complicar com essas questões, mas sua boa índole – escondida no meio dos músculos, niilismo e arrogância – não o permite deixar o crime de forma impune.
A minissérie é formada por cinco edições, que chegaram no Brasil nas cinco primeiras edições da revista Marvel Max. Das Hqs que se propõem algo mais sério e realista, esta merece destaque, pois esse conceito é levado tão a serio que a história cria, propositalmente, a dúvida se ele é de fato a prova de balas – ou não cria e eu que sou burro? Apesar de Luke Cage ser um super herói, esse quadrinho beira a ser uma história sobre crime e praticamente nada ter de super herói. Um quadrinhos +18 – em todos os sentidos – e talvez não tão simples de encontrar, já que essa revista saiu de linha e essa história ainda não foi republicada – resolva logo isso Panini.