Nos anos 80 tivemos uma boa dose de filmes roteirizados e dirigidos por John Hughes que conseguiram sintetizar a juventude de uma década. Claro que nem todos os seus filmes são excelentes, mas muitos ficaram marcados na história e conseguiram retratar os adolescentes de forma humana, digna e interessante. Com a virada para os anos 2000 parece que esse tipo de filme foi sumindo aos poucos. Ocasionalmente temos alguns títulos como A Mentira, Meninas Malvadas e As Vantagens de Ser Invisível. Não é fácil representar uma juventude sem torná-la caricata e ao mesmo tempo fazer os conflitos juvenis parecerem realmente relevantes. Por sorte Com Amor, Simon consegue.
Simon é um adolescente tipicamente normal de classe média americana, entretanto o fato de ser gay é um segredo bem guardado. Quando ele descobre que existe mais um cara no armário em seu colégio ele começa a se corresponder com ele por e-mail. Ambos usam pseudônimos para se relacionar e não sabem se reconhecer durante as aulas. Quando o segredo de Simon cai em mãos erradas sua vida começa a sair dos trilhos.
Esse tipo de história poderia facilmente cair num dramalhão que colocasse o gay como uma vítima que precisa se esconder constantemente se não será amplamente massacrado pelo mundo. Felizmente o longa retrata o jovem gay de forma bem mais leve e natural do que em filme mais antigos. Óbvio que o preconceito é retratado e os medos de se assumir também, mas existe muito cuidado em não colocar essa situação como “o fim do mundo”.
O filme é baseado no livro de Becky Albertalli e foi adaptado para a audiovisual por Isaac Aptaker e Elizabeth Berger. Greg Berlanti é o diretor e comanda um elenco bem interessante e carismático. A história tem ótimas sacadas humorísticas e equilibra muito bem com as curvas dramáticas. Acaba sendo bem mais um filme de comédia do que de drama, apesar de lidar com questões e temas bem pesados.
Nick Robinson é o protagonista e está incrivelmente bem em seu papel. Passa toda a insegurança, constrangimento, senso de humor e inteligência que Simon possui. Os coadjuvantes são bem divertidos e em nenhum momento roubam a cena. Estão ali para compor a história de Simon. Entretanto, talvez o único defeito deste filme seja o personagem do ator Logan Miller que ao mesmo tempo em que assume o papel de antagonista, também cumpre a função de alivio cômico num filme onde o humor está presente em diversas cenas. Tanto sua atuação é um pouco deslocada do resto do tom do filme quanto suas atitudes.
O mais curioso é o inesperado clima de suspense que está presente na trama. É impossível não ficar fissurado em saber quem é o correspondente secreto de Simon. Inteligentemente a direção sabe desviar a nossa atenção e deixar uma constante dúvida. Ao mesmo tempo essa é uma bela história de amor e, se você se permitir retornar para a adolescência, é bem capaz que as situações mexam com você e te deixem envolvido. Para os adolescentes esta pode ser uma obra marcante e quem sabe seja lembrada no futuro como um clássico de uma geração. Não saberia dizer se ele será isso tudo para quem está abaixo dos dezoito, mas realmente acho que Com Amor, Simon é um baita filme para quem está nesta idade e enfrentando os primeiros amores da vida.
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