Meu ponto fraco dentro da ficção científica são as histórias com viagem no tempo, por isso não pensei duas vezes ao decidir ler É Assim Que Se Perde A Guerra do Tempo, novela epistolar vencedora do Prêmio Hugo escrita em conjunto pela canadense Amar El-Motar e pelo americano Max Gladstone. Mas apesar da temática familiar, a leitura foi um desafio por ser diferente de tudo que já experimentei.

Na trama, acompanhamos os pontos de vista de Red e Blue, duas agentes de grupos rivais que travam uma guerra pelo controle do espaço-tempo. Ambas são as melhores no que fazem e encontram uma na outra um desafio à altura. Por isso, elas começam a trocar correspondência secretamente; mas o que era apenas provocação acaba se tornando algo mais. E caso uma das facções descubra essa relação de amor proibido, a punição será a morte para as duas.

É Assim Que Se Perde A Guerra do Tempo é uma novela epistolar, ou seja, ela é contada através de cartas entre as duas protagonistas. Entre uma epístola e outra, vemos um trecho narrativo que nos mostra onde as personagens estão em determinado momento até encontrarem a próxima carta. Eu só percebi que a obra seguiria essa estrutura depois do terceiro capítulo. Foi um pouco estranho me acostumar com isso, pois foi a primeira vez que li um livro nesse formato.

O primeiro motivo de estranheza é a falta de uma narrativa linear, visto que a cada capítulo as protagonistas estão em um local diferente cumprindo alguma missão para suas respectivas facções. Em segundo lugar é a linguagem das cartas que elas trocam entre si. Todos os relatos são intimistas e falam de forma abstrata e poética sobre o que elas veem e sentem. Isso me dificultou criar uma imagem exata do contexto em que elas se encontram e o que elas são de fato dentro das misteriosas agências temporais, cuja origem da disputa também não fica clara. Elas simplesmente guerreiam para dominar o controle do tempo ao longo das eras.

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O problema foi que iniciei a leitura esperando a narração característica de uma obra de ficção cientifica objetiva e com conceitos científicos. Porém o que recebi foram divagações e reflexões profundas de duas mulheres em conflito uma com a outra e consigo mesmas. Cheguei a pensar em desistir do livro, mas fiz um esforço para condicionar minha mente ao estilo das cartas. Quando fiz isso, ficou realmente mais fácil enxergar a beleza poética que as epístolas contêm.

Ainda que tenha sido um processo de adaptação, o final da novela consegue surpreender com elementos genuínos de tramas com viagem no tempo que tornam o desfecho pouco previsível. Nesse ponto, os autores conseguem combinar todo o lirismo narrativo aos loopings e reviravoltas temporais.

É Assim Que Se Perde A Guerra do Tempo é um livro diferente do que a maioria dos leitores de ficção científica está acostumada, mas caso o leitor tenha em mente o que o aguarda, vai conseguir apreciar muito melhor a leitura e absorver toda a poesia e romantismo contidos em suas palavras. Se eu soubesse disso antes de ler, teria uma visão muito diferente da obra e, quem sabe, uma avaliação mais positiva.

Adicione este livro à sua biblioteca!

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Mozer Dias

Engenheiro por formação, mas apaixonado pelo mundo da literatura e do cinema. Se eu demorar a responder, provavelmente estou ocupado lendo ou assistindo a um filme.

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