Em 2019 estreou a primeira temporada de Fire Force, adaptação em anime do homônimo mangá criado e ilustrado por Atsushi Okubo (conhecido também por Soul Eater), contando com 24 episódios e um enredo bem diferente dos shonens tradicionais. A obra segue um esquadrão do corpo de bombeiros. Até aqui podemos pensar que, apesar de não ser muito comum, o que tem de diferente acompanhar uma profissão tão tradicional e importante por todo o mundo? Mas estes são bombeiros especiais, são bombeiros que manipulam o Fogo para combater a combustão humana. E com o desenrolar da história seguimos Shinra Kusakabe e percebemos todo o universo em chamas construído pelo anime junto de sua boa animação e mistérios crescentes.
Sinopse: No ano 198 da Era Solar em Tóquio, bombeiros especiais lutam contra um fenômeno chamado combustão humana espontânea, onde seres humanos são transformados em monstros chamados ‘Infernais‘. Enquanto os Infernais de primeira geração causam a combustão humana espontânea, as gerações posteriores possuem a capacidade de manipular as chamas, mantendo a forma humana. Shinra Kusakabe, um jovem que ganhou o apelido de Pegadas do Diabo por sua habilidade de inflamar seus pés à vontade, junta-se à 8ª Companhia Especial de Bombeiros, composta por outros usuários de chamas que trabalham para extinguir quaisquer Infernais que encontrem. Quando surge uma facção que está criando Infernais, Shira começa a descobrir a verdade por trás de um misterioso incêndio que causou a morte de sua família há doze anos.
O que move o anime nesta primeira temporada é o mistério por trás da origem dos poderes de Shinra e por consequência dos manipuladores das chamas. Em sua infância o protagonista perde seus familiares no evento em questão, e com isto ele trilha o caminho em busca da verdade e de vingança. Porém, ao ser aceito na 8ª Companhia Especial de Bombeiros, Shinra aceita seu papel em ser um herói para salvar as almas dos Infernais e topa com mistérios que não só complicam seus objetivos como amplificam o universo do anime. E isso acaba por deixar tudo mais interessante para o espectador.
Em Fire Force o mundo está num estado pós-apocalíptico e o Império é como se fosse uma “utopia” nesta realidade. Em um mundo cheio de caos e chamas, existir um lugar que consegue se organizar graças a seu grande gerador de energia Amaterasu é um grande abrigo para seus súditos. O Império foi construído sobre as ruínas de um antigo mundo destruído pelas chamas. Nele há governo e gestão próprios, onde existem grandes corporações envolvidas, inclusive dentro da própria Brigada de Bombeiros. Para quem já assistiu Robocop, isso tem uma pitada de Delta City, não? Existe até uma crença específica que adora o grande deus Sol, se organizando em igrejas e tendo sua própria versão de “amém” ou “aleluia”. E ao longo dos episódios vamos encaixando as peças para entender que a trama tem uma grande distopia de pano de fundo.
Os traços e a animação do anime são muito interessantes. Trazendo lindas cores e efeitos visuais com as chamas e com o próprio uniforme dos bombeiros, por exemplo. O trabalho feito pelo estúdio David Production foi muito interessante neste quesito. A direção do anime é por conta de Yuki Yase, com Yamato Haijima no roteiro e Hideyuki Morioka no designer de personagens. Os personagens estes que seguem um certo ponto o padrão dos shonen, com o protagonista determinado e barulhento, um rival mais calado (se bem que o Artur é mais conhecido por ser burro), um mentor sério e ilibado, a menina bruta e esforçada, etc. Porém Fire Force é um anime muito focado em seu protagonista, não dando muito espaço para outros personagens serem mais do que coadjuvantes mesmo.
A narrativa acaba sendo uma questão em Fire Force. Não a narrativa do anime como um todo, mas a narrativa visual dos episódios em si, que contam com cortes abruptos, enquadramentos sem muito sentido, foreshadowing atrás de outros. E, claro, conta com os grandes clichês do gênero shonen os vilões que se tornam anti-heróis, os confrontos entre os times (que aqui são as corporações dos bombeiros), a adição de novos membros para o “team-up”, etc. Para quem é fã de animes são coisas que já são esperadas em tais obras, mas não há como não se decepcionar quando notamos que são os mesmos arquétipos e estruturas de obras de 20 anos. Temos até mesmo os excessivos momentos “ecchis” atrapalhados com as personagens femininas do anime, tão forçados que incomodam. Porém o anime sobrevive a tudo isso graças ao seu enredo e animação.
Com seus 24 episódios, Fire Force tem um início um pouco arrastado, mas não demora a engrenar em seus mistérios e a partir da metade da temporada passamos a consumir um episódio atrás do outro. A obra tem o mérito de aumentar a curiosidade no espectador sobre seu próprio mundo e mitologia. Existe uma correlação “espiritual” no enredo, trazendo alusões a demônios, chamas das profundezas e até o próprio inferno que dá a impressão que estamos no caminho de um plot twist a qualquer momento, apesar de que, nessa parte, o anime acaba se desenvolvendo bem lentamente nesta primeira temporada. É até compreensível pois, neste momento, Fire Force está na fase de ainda estabelecer seus mistérios do que respondê-los. Por fim, estou ansioso para iniciar a segunda temporada (já disponível) e ver o que este mundo criado em Fire Force ainda tem a oferecer.
Fire Force
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Nota