A história do “cara consegue a garota” é mais antiga do que andar para frente. O protagonista homem que precisa passar por uma série de obstáculos para conseguir a mulher amada é certamente uma das histórias que mais vende em Hollywood, pois quase todo cara consegue se colocar no lugar do protagonista. Geralmente as mulheres a “serem conquistadas” sempre são uma concepção totalmente idealizada do que seria o feminino e na maior parte das vezes essas mulheres são apenas um plot device (algo que só serve para avançar a história para frente, muitas vezes é um objeto). Get the Gril consegue ser um filme que faz uso de todos esses conceitos de forma bem preconceituosa.

O filme sabe que sua premissa de roteiro é um tanto absurda e justamente por isso ele começa a colocar diversos elementos de comédia. O próprio protagonista é bem humorado e faz diversas colocações engraçadas numa narração em primeira pessoa que deixa o filme bem ágil. Na verdade o filme como um todo tem um ritmo muito bom, principalmente em seu primeiro ato. A direção de Eric England é bem interessante sabendo onde inserir narração, cortes e fazer uma história que se passa com pouquíssimos personagens parecer muito movimentada.

O grande problema desse filme está em seu roteiro, que também é de Eric England em conjunto com Graham Denman. Nosso protagonista Clerence é o típico cara que acredita que o simples fato dele ser simpático, amigável e educado faz com que a mulher que ele goste seja obrigada a gostar dele também. Ele deseja se relacionar com Alex (interpretada por Elizabeth Whitson), mas em nenhum momento ele a aborda, simplesmente observa de longe e espera que ela o note. Clerence se comporta como um mártir que fará de tudo por sua amada, mesmo que ela não dê valor, se colocando numa espécie de posição de vítima e supostamente nós, o público, deveríamos estar do lado dele.  

Do segundo ato para frente à história em si começa a desandar. Somos obrigados a ver dois bandidos totalmente deslocados do tom do resto do filme. Por mais que o filme de fato tenha um pé na comédia o tom dela se perde completamente com situações totalmente absurdas. Um dos bandidos é uma mulher que está noiva do líder dos sequestradores e ela passa o filme inteiro chorando ou em euforia por que finalmente vai se casar.

Publicidade

O filme só não ganhará a nota mínima por sua direção extremamente ágil e por ter algumas pequenas revelações interessantes em sua conclusão. Ainda assim é um filme muito difícil de apreciar pela tentativa que o roteiro tem de vender que Clerence é o herói desta história, enquanto na verdade ele é o símbolo do homem que se acha incrível e que toda a mulher que ele gosta deveria amá-lo pelo simples fato dele ser, supostamente, um cara legal. As duas personagens femininas que temos se comportam como completas idiotas e precisam o tempo todo de homens para solucionar todos os problemas de suas vidas. E de quebra dois alívios cômicos que parecem estar participando de outro filme que não esse.

Publicidade
Share.
Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

Exit mobile version