Máquina Mortífera foi, sem dúvidas, um marco na história do cinema. Não foi ele que inventou o subgênero “filme de dupla polícial”, mas os solidificou e estabeleceu o tom de mistura entre ação e comédia. Muitos dos longas que vieram em sequência seguiram o caminho trilhado pela quadrilogia de Máquina Mortífera, que acabou escorrendo para o mundo das séries de TV, onde temos uma quantidade gigantesca de programas na temática policial. Chips era uma série policial que começou nos anos setenta e mostrava dois policiais de rodovia lutando contra o crime. Essa adaptação para o cinema tenta revitalizar o conceito do antigo programa, com muita comédia e ação como pede esse estilo.
Um agente do FBI é mandado para se infiltrar entre os policiais de Los Angeles para descobrir quem são os ladrões de carros fortes. Ele é colocado como parceiro de um calouro, que é um ex-piloto de motocicleta totalmente problemático. Juntos, eles precisam descobrir quem são os policiais corruptos e aprenderem a trabalhar juntos.
O agente do FBI é interpretado por Michael Peña, talvez você lembre-se dele do filme Homem Formiga como ótimo alivio cômico, ou em sua pequena participação em Perdido em Marte. Aqui ele faz o curioso papel de agente super preparado com problemas de vício sexual. Sua dupla cômica é em parceria de Dax Shepard, que está muito bem como policial novato problemático e de casamento falido. Chega a ser mais cômico do que Michael e os dois juntos funcionam muito bem. O filme é muito mais puxado para a comédia do que para a ação, apesar de ter ótimos momentos de perseguição e tiroteio.
O primeiro ato é interessante no que diz respeito a conhecer os personagens, mas não é tão legal ver a dupla na fase de estranhamento e brigando entre si. Também percebemos logo de cara quem são os vilões do filme e não temos o suspense de descobrir quem são os policiais corruptos, o que quebra um pouco a graça da investigação ao longo do filme. Mas do segundo ato para frente temos uma ótima dinâmica, as piadas melhoram e ótimas cenas de ação. A finalização do terceiro ato não é tão empolgante e pode decepcionar, mas não deixa o filme ruim. O vilão, e seus planos de roubo, são bem interessantes e fogem do comum, algo que deixa o roteiro bem mais empolgante.
O roteiro é do próprio Dax Shepard que também dirigiu o filme. O criador original da série, Rick Rosner, mas claramente o maior peso criativo está nas mãos de Dax. Sua direção como filme de ação é muito interessante e momentos de perseguição muito bem planejados. Nada muito inovador, mas bastante eficiente. Seu roteiro é surpreendentemente intrincado no que diz respeito à investigação, planos dos vilões, e trabalho policial. Ele consegue conectar diversas pontas deixadas ao longo do filme, deixando a história bem redonda. Ele tem alguns outros trabalhos de roteirista e diretor em filmes desse estilo e mostra um talento para esse gênero que mistura ação e comédia. Dax está cotado para dirigir e roteirizar um novo filme do Scooby Doo.
Para quem gosta de filmes deste gênero, Chips é uma ótima pedida, mas talvez incomode algumas piadas que não funcionam e certo exagero em situações cômicas que deixam o filme com um leve toque surreal, que não condiz muito com o todo do longa. Nada que efetivamente acabe com o filme, mas fazem sua qualidade cair um pouco. O roteiro consegue fugir do comum em diversos pequenos pontos, mas, de modo geral, segue a estrutura clássica dos filmes de dupla policial.