Em abril deste ano, nós da equipe do Leituraverso estivemos no lançamento do livro Primeira Página – Conflito na Baiana. Em sua estreia como escritor, o jornalista JM Costa nos mostra um retrato que infelizmente é comum em muitas cidades do país: a violência urbana e a corrupção dentro dos órgãos que deveriam zelar pela população.

A trama nos apresenta Clara Gabo, uma repórter em início de carreira que trabalha no Diário Carioca. Ao final do expediente, ela recebe o telefonema de uma garotinha de 9 anos do Morro da Baiana. Desesperada, a menina relata um crime que está ocorrendo naquele momento, do qual a vítima é a própria mãe. A jornalista, então, resolve ajudar sua interlocutora, mesmo que para isso se ponha em risco. Com o avanço da investigação e a publicação da reportagem na primeira página do jornal, uma série de desdobramentos e informações comprometedoras para o Estado são revelados, ameaçando até mesmo a curta carreira de Clara.

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Apesar de ser uma ficção, infelizmente os fatos narrados são muito semelhantes ao nosso cotidiano. Se ligarmos a TV, todo dia veremos um novo conflito que poderia muito bem ser aquele noticiado pela protagonista. O diferencial da obra, na verdade, está no relato em primeira pessoa que expõe o ponto de vista da jornalista, uma profissional íntegra que preza pela justiça e pela honestidade das informações, diferentemente de muitos exemplos que encontramos na Imprensa atualmente. Clara, apesar de jovem, é uma repórter à moda antiga, que vai a campo para apurar os fatos sem receio de se enfiar em enrascadas. Através dela, vemos muitas críticas ao jornalismo sensacionalista e também à falta de veracidade das notícias compartilhadas em redes sociais.

As pessoas reclamam o tempo todo da quantidade de banalidades e futilidades nos jornais, TVs e demais veículos de comunicação. Mas a verdade é que nada dá mais audiência do que futilidades, fofoca, escândalo com famosos e celebridades instantâneas. Você batalha, corre riscos, investiga, denuncia … Mas no fim das contas o que o público procura, o que vende mesmo, é peito, bunda e putaria… Não tem jeito. É do ser humano.” (p. 53)

A opinião nunca foi tão pública e preguiçosa. Todos querem exercer seu direito de comentar, dar likes e compartilhar. Mas poucos, muito poucos, buscam informações e refletem sobre suas entrelinhas. O mundo padece de uma preguiça mental endêmica.” (p. 102)

Além dessa reprimenda dura, outra muito pior é feita aos órgãos de segurança pública no que diz respeito à ineficácia e corrupção da Polícia Militar. Mesmo que seja uma censura legítima, esse é um ponto delicado do livro pois, da forma como foi colocado, fica a impressão de que toda a instituição dos policiais militares está corrompida. Outro ponto difícil de assimilar foi a intelectualização do traficante “dono” do morro. Tal característica não é condizente com a realidade das favelas, onde bandidos pensam somente no próprio benefício sem se importar com quem prejudicam, de modo que esse fato pode ser considerado apenas um ornamento ficcional.

Fora esses detalhes, a narrativa é ágil, com capítulos curtos que fazem a leitura fluir sem problemas até chegarmos à sua conclusão. O carisma da personagem principal é cativante, fazendo com que nós torçamos por ela do início ao fim e para que a verdade venha à tona.

Dessa forma, mesmo que tratando de um tema complexo onde não é simples diferenciar o “bem” do “mal”, Primeira Página levanta questões que precisam ser discutidas e repensadas. O início de uma mudança para melhor ocorrerá quando as maçãs podres começarem a ser retiradas do cesto, seja na política, na Imprensa, na Polícia ou no resto da sociedade.

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Mozer Dias

Engenheiro por formação, mas apaixonado pelo mundo da literatura e do cinema. Se eu demorar a responder, provavelmente estou ocupado lendo ou assistindo a um filme.

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