Já falei aqui sobre esse filme, num texto onde falo sobre algumas versões curiosas do mito de Frankenstein. Desde que a história foi publicada em 1818 por Mary Shelley, ela se tornou um sucesso. Assim como Drácula, foi logo adaptada para o teatro e logo em seguida pelo cinema americano e, com isso, o filme de 1937 foi fundamental para gravar essa história na mente do consciente coletivo. Esse filme foi tão poderoso que influenciou gerações e gerações de cineastas e Young Frankestein nada mais é do que uma prova de amor a esse estilo de se fazer filmes da Universal e a todo o gênero que ele criou.
No filme acompanhamos a chegada do neto de Frankestein que renega totalmente a história de sua família, até evitando utilizar o nome de seus ancestrais. Apesar disso, ele seguiu a carreira na medicina. Um belo dia, um estranho homem aparece em sua aula na faculdade de medicina dizendo que ele herdou todas as propriedades de seu avô. Ele acaba viajando para o castelo e começa a ficar fascinado pelo trabalho de reanimar tecido vivo.
Pode parecer estranho, principalmente depois de ler essa sinopse, se eu disser que esse filme é uma comédia. Ele brinca com todos os estereótipos de filmes de terror clássico. Portas que se fecham sozinhas, relâmpagos inoportunos e todo o tipo de humor de situação, essa seria a primeira camada do humor desse filme. A segunda camada é humor físico, mas do tipo mais refinado. Não estou falando simplesmente de um personagem caindo ou algo do tipo, são piadas inteligentíssimas, como quando a criatura começa a enforcar o doutor e ele não consegue pedir ajuda, então começa a fazer mímica para seu assistente Igor.
A terceira camada está nos diálogos, que são absurdamente bons. Gene Wilder é o Frankestein e, propositalmente, ele imita a atuação exagerada de Clive no filme de 1931, onde o médico louco deixa de ser uma figura assustadora e atormentada para virar um neurótico engraçado. Sua atuação é ótima e poderia facilmente ter caído no exagerado, mas ele faz na medida certa. Igor brilha como nunca. Se antes ele era um personagem secundário marcante por sua corcunda, nesse filme ele rouba a cena. Marty Feldman faz o assistente do doutor, mas ele é totalmente alheio a tudo. O personagem de Feldman é como se fosse um dos espectadores e estivesse comentando o filme junto com você. O inacreditável é que ele faz essa quebra constante da quarta parede somente com olhadas. Quando Frankenstein está tendo algum surto, Igor olha rapidamente para a câmera como quem diz “Olha o que eu sou obrigado a aguentar”.
A quarta camada é a homenagem. Todos esses elementos são tão bons que é possível esquecer que estamos vendo uma parodia. Óbvio que os cenários, a estética preto e branco e até algumas cenas são propositalmente idênticas. Houve até uma preocupação de utilizar os mesmos objetos de cena do filme de 31. É quase como se fosse uma espécie de continuação espiritual daquela história séria.
O filme é dirigido por Mel Brooks que tem um histórico incrível com comédias, tanto as escrevendo, dirigindo e atuando. Nesse filme ele até teve uma briga com Gene pelo roteiro, pois ambos estavam apaixonados pelo projeto e cada um desejava deixar sua marca nele. Brooks sempre foi extremamente ousado e adora fazer piadas com gêneros do cinema. Para ele, esse filme era um belo desafio já que nesse período fazer um longa-metragem de terror com um tom humorístico era algo impensável.
Mas e a comédia? Sobrevive até hoje? Em grande parte sim, chegando até a ser elegante. No terceiro ato do filme temos alguns pontos que podem ser questionáveis no que diz respeito a sexo não consentido, mas a direção de Mel Brooks é tão boa que ele consegue fazer tais piadas que podem passar despercebidas, mas ainda sim temos algumas coisas questionáveis. A participação feminina também é bem risível e, claramente, só estão na trama para servir às figuras masculinas, podendo realmente incomodar bastante. Mas de modo geral o filme ainda é bom e cheio de sutilezas inacreditáveis. Vale a pensa ser visto ou revisto.
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