A exploração de terras inóspitas e exóticas fascinou o povo europeu por muito tempo desde que as grandes navegações começaram. Muito se fala que o gênero aventura na literatura nasceu dos relatos desses exploradores que se deparavam com novos lugares, nativos perigosos e animais totalmente desconhecidos. Por mais que esse período da História tenha passado, tal tema continua a nos fascinar. Não é a toa que até hoje contamos histórias de exploração espacial, em outras dimensões e até mesmo através do tempo.
Z: A Cidade Perdida se propõe justamente a contar a história de um explorador que propunha a existência de uma cidade perdida entre a fronteira da Bolívia e do Brasil. Percy Fawcett (Charlie Hunnam) é esse inglês que, após mapear um rio na região, ajuda os dois países a definirem suas fronteires, mas acaba ficando completamente obsessivo com a ideia da cidade perdida.
Antes de tudo, é preciso dizer que a maioria dos filmes que falam de histórias reais tem o problema de carecerem um pouco de ritmo, pois os eventos reais não obedecem à lógica dos três atos, ou qualquer coisa do gênero. Isso se percebe no filme, pois o protagonista, interpretado por Charlie Hunnam, retorna diversas vezes a Europa, fazendo a dobradinha floresta/civilização uma boa quantidade de vezes. Tal movimentação é necessária para contar a história real desta figura, mas faz o ritmo do filme decair algumas vezes, o que faz a duração de duas horas e vinte minutos de projeção passarem de forma lenta.
Entretanto, o diretor James Gray que já comandara também o filme Donos da Noite, além de fazer o roteiro adaptado do livro de David Grann, sabe contornar esses problemas inerentes da história. Somos muito bem servidos de paisagens incríveis, cenas de ação de tirar o fôlego e realistas, atores dando o melhor de si… Seu único problema é fazer cortes muito bruscos para situações de tensão, sem nos dar a chance de ver o problema em questão se formando, percebemos somente o auge da situação e os eventos que esses problemas geram. Charlie Hunnam vem montando um bom histórico no cinema, principalmente depois do seu ultimo filme sobre rei Arthur (que você pode ler a crítica aqui). Robert Pattinson (que ficou famoso pelo vampiro da saga Crepúsculo) surpreende com uma atuação incrível do explorador auxiliar, Henry Costin. Sua atuação é tão boa que é possível ter certa dificuldade para acreditar que é ele em tela.
Um problema do roteiro é a participação da esposa do protagonista, Nina Fawcett (interpretada por Sienna Miller). Inicialmente, o mote de sua personagem era questionar o machismo de seu tempo e desejar uma vida para além de mãe e esposa. Entretanto, essa personalidade surge em poucas cenas para logo depois ser varrido para fora do roteiro, se tornando mais uma mãe e esposa qualquer. Ironicamente triste para um filme que estava desenvolvendo isso bem. De modo geral, os personagens têm algumas mudanças súbitas de objetivos, o próprio Percy Fawcett decide buscar a Cidade Z de forma bastante repentina. Por outro lado, o filme consegue encaixar reflexões atuais dentro de um filme do início do século XX, algo que é sempre arriscado e que pode gerar um anacronismo gritante, mas, James Gray, consegue de forma interessante.
Angus Macfadyen faz um antagonista sensacional e totalmente odiável, o que é justamente a proposta da história. Outro ator que está se empenhando ao máximo e entrega um trabalho incrível. Mesmo com sua pouca participação ele consegue marcar a obra com um ótimo trabalho. Tom Holland também tem uma curta participação, mas se sai de forma excelente mostrando versatilidade em interpretar situações extremas.
O filme tem um pouco de tudo. Ação, suspense, romance, pois assim como na vida real, vive-se uma grande mistura disso tudo. O filme é deliciosamente realista e mostra uma exploração como realmente era. O longa arranca todo o tipo de emoções e é possível se pegar prendendo a respiração em vários momentos. Também acaba sendo muito bem sucedido em mostrar a história de um homem fascinado por uma missão e seu flerte constante com a obsessão cega. Uma ideia diferente e que merece ser vista.
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