O filme “Uma aventura Lego” já havia se mostrado engraçadíssimo e com um roteiro muito inteligente, claramente se provando como uma obra que vai além de uma mera peça de propaganda da empresa de brinquedos. O super herói já havia aparecido no filme anterior e feito um enorme sucesso pelo seu tom cômico e exagerado. Neste longa Batman enfrenta seu maior medo: abrir-se para novos relacionamentos nem que ele se envolva emocionalmente. Isso perpassa pelo seu mordomo Alfred, seu filho recém-adotado Richard Grayson e seus embates com Coringa. Ele precisa aprender a trabalhar em equipe para impedir o ataque de uma horda de vilões em Gotham.

O humor do filme como um todo é muito baseado em referências, ou seja, para que uma piada efetivamente funcione, é necessário que aquele que assiste tenha um arcabouço cultural minimamente amplo, principalmente no que se refere à própria mitologia do Batman nos cinemas. Mais de uma vez outras encarnações do Batman são citadas como construção de piada que só se efetiva caso você tenha aquela referência em sua mente para completar a piada. Por um lado isso é maravilhoso para o fã do personagem ou da cultura de super-heróis, mas por outro pode isolar aqueles que não carregam todas as encarnações do Morcego na memória.

Outra genialidade que já vem desde sua aparição em “Uma aventura Lego”, é tirar sarro da persona exagerada que é o Batman. Toda a mítica do homem que está sempre preparado, o homem que pode derrotar um deus, aquele que nunca falha e todas essas ideias são colocadas como exageros cômicos. Tudo o que torna o personagem interessante é extrapolado para apontar o quanto ele pode ser um tanto ridículo, como todo super herói, e nós podemos rir dele. Sua personalidade é totalmente egocêntrica e infantil gerando ótimos momentos com todos os outros personagens que ele interage ao longo do filme.

Defeitos do filme? Como a maioria das animações Lego essa é bastante rápida, sendo por vezes difícil acompanhar o que está ocorrendo na tela. Coisas são construídas do nada, personagens se movimentam quase que se teletransportando em alguns momentos e tudo com uma câmera frenética que roda, gira e desliza para todos os lados. O diretor Chris McKay (que já trabalhou em episódios de Frango Robô) consegue dar bastante ritmo ao filme, mas, às vezes, tudo é tão rápido que parte desse ritmo se perde e a história como um todo começa a ficar muito corrida. O que é curioso já que essa animação possui uma hora e quarenta minutos, tempo relativamente grande para um filme desse tipo.

O roteiro fica por conta de Seth Grahame-Smith que tem em seu currículo “Orgulho, Preconceito e Zumbis”, “Sombras da Noite” e “Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros” e aqui consegue amarrar de forma bastante criativa um mar de referências culturais totalmente diversas, que jamais se encaixariam juntas em um mesmo filme, mas que neste roteiro isso acontece, e muito bem. Algumas piadas podem se repetir, assim como o dilema único do Batman que pode soar repetitivo, mas nada que se torne realmente cansativo ou qualquer coisa do gênero, só um tanto previsível no terceiro ato.

De modo geral, Batman Lego é um filme divertido para qualquer fã do personagem. Surpreende em seu início pelo exagero e mostra um lado cômico pouco explorado mas claramente latente em Batman. Por vezes anárquico demais e propositalmente confuso, esse é um filme que tem um espaço no coração de qualquer amante de cinema e cultura pop.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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