Continuando nossos reviews sobre a coleção Salvat do homem aranha (você pode ler a primeira aqui) vamos a segunda HQ. “Percepções” já havia saído aqui no Brasil pela editora Abril em dois volumes com nome de “Homem Aranha e Wolverine”. A obra é desenhada e roteirizada por Todd Mcfarlane na época em que ele era uma das grandes estrelas da Marvel e dominava a revista mensal do aracnídeo. A arte final fica por conta de Rick Magyar e cores de Grefory Wright.

Nesta história Peter Parker é mandado para o Canadá com o objetivo de investigar uma série de assassinatos de crianças. Nos jornais locais o culpado pela matança é o mostro Wendigo, uma criatura folclórica do Canadá semelhante ao Pé Grande. Paralelamente Wolverine está no local investigando a mesma situação. A pequena cidade onde tudo acontece começa a entrar num caos, pois uma série de moradores decide invadir a floresta e matar tudo o que se mexe até acertar o dito mostro. Os ecologistas começam a entrar em conflito com esses justiceiros mundanos que estão matando muitos animais inocentes. O circo midiático se arma.

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Antes de tudo precisamos falar sobre Mcfarlane. Ele é um enorme exemplo do que eram os quadrinhos dos anos 90. Desenhos super exagerados, histórias sombrias e por vezes rasas. Nesta HQ isso fica bem claro. Ele abusa de enquadramentos ousados e chamativos, e principalmente bastante close em seus personagens. Um dos maiores defeitos do artista desta geração é a dificuldade de desenhar cenas cotidianas, e justamente por isso, elas são quase todas limadas das histórias. Temos um caso desses nesta obra quando Peter está almoçando com um jornalista, parece que os dois estão brigando quando na verdade estão tendo uma conversa normal. Outro problema são os rostos: se você não for um super herói, ou uma mulher voluptuosa, seu personagem sera desenhado de forma caricatural semi deformada.

O que surpreende é justamente o seu texto. Ele realmente se esforça em contar uma história elaborada e com significado (dentro do que Mcfarlane consegue). Fala sobre a mídia sedenta por sensacionalismo, burocracia corrupta e um leve tom ecológico. O mais incrível é a personalidade que ele dá ao Wolverine. Ele escapa do senso comum de homem bronco normal e dá uma ideologia (singela, porem está lá), o que gera uma camada, não muito profunda, que o torna mais interessante e não só um anti-herói sanguinolento. Não é a toa que essa não parece ser uma história do Homem Aranha, e sim do mutante. O aracnídeo é bastante passivo e faz pouca coisa na história, enquanto Wolverine brilha como personagem.

A arte dele está como sempre foi. Ame-a ou deixe-a (apesar de aqui ela variar entre o muito exagerado e o bacana). Admito que não seja o maior fã dele, mas admito que neste trabalho a coisa se encaixe bem, talvez, justamente, pelo texto ser do próprio desenhista, o que gera uma sinergia maior entre desenho e roteiro. O mais interessante é que no final ele consegue surpreender e não tenta contar uma história super complexa. É um evento isolado e tenta refletir o que é possível refletir sem pretensões muito complexas. Uma HQ bem honesta.  

Quem vem buscando uma história do Homem Aranha pode se arrepender. Talvez a forma mais honesta de ajustar suas expectativas é encará-la como a Abril a vendeu: Homem Aranha e Wolverine. Se você é fã de Mcfarlane há muito para curtir nesta HQ. Se busca uma história mais básica, porém feita com cuidado está pode ser uma boa pedida.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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