O primeiro King Kong, de 1933, foi uma revolução sem precedentes no áudio visual. A Imagem do macaco gigante ficou tão marcada no imaginário popular que ele acabou virando um símbolo do cinema em si. A história do macaco gigante que vive numa ilha isolada acabou virando uma espécie de mito moderno e, como todo mito, foi recontado algumas vezes. Tendo mais de dez filmes que remontam ou continuam a história original. Esse ano tivemos mais uma dessas reformulações que tem como objetivo atualizar o mito de Kong, o máximo possível.

No final dos anos 70 os satélites começam a tirar fotos da superfície da Terra gerando uma nova onda de conhecimento sobre nosso próprio planeta. Foi a última era de lugares desconhecidos e ilhas perdidas. É neste contexto que a Ilha da Caveira é encontrada, até então era uma lenda de mitologias antigas. O exército americano manda uma expedição composta de militares, pesquisadores e figuras que não fazem diferença na trama para descobrir o que tem naquele lugar misterioso.  

A maioria dos remakes que surgiram nos últimos dez anos tem como objetivo atualizar algumas histórias e torná-las mais sérias. O grande problema da maioria desses projetos é que eles trabalham com a ideia de quanto mais a sério se levar, melhor o filme será. Felizmente Kong: A Ilha da Caveira não cai nesse problema, apesar do diretor se esforçar ao máximo para fazer um longa lindo. O roteiro de John Gatins trabalha na medida certa a seriedade, o humor e a aventura “pipoca” que tanto combina com a proposta. Cria-se alguns clichês e situações forçadas, mas tudo acaba sem prejudicar o filme, pois justamente não abraça uma seriedade que não lhe pertence. Falaremos mais disso a frente.

Precisamos gastar algumas linhas falando do diretor Jordan Vogt-Roberts. Ele realmente se preocupa em criar um filme visualmente memorável. De modo geral, ele tenta criar um clima de filme de guerra, coisa que funciona às vezes. Quando chegamos à ilha temos diversas cenas que emulam o icônico Apocalipse Now. As cenas de ação são fantásticas e empolgam num nível inacreditável. Ele é inteligentíssimo em criar situações novas e brincar com as possibilidades de ver um macaco gigante brigando com outros monstros gigantes.  O filme é bastante criativo em criar esses adversários para Kong e faz você querer conhecer mais daquela ilha exótica. Por vezes a direção de Jordan fica exagerada, no que diz respeito à ação, e, em momentos sérios, pode ficar levemente brega. Nada fatal e até pode dar um charme para um filme pipoca como esse.

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O filme tem um elenco bem interessante. Samuel L. Jackson interpreta o vilão do filme e faz o “mesmo de sempre”. Ele já chegou num nível da carreira onde ele quase sempre faz o mesmo personagem (uma versão exagerada dele mesmo). Tom Hiddleston ensaia um protagonista que não convence. O problema não é sua atuação ou nada do tipo, mas sim porque seu personagem é simplesmente ruim. Os três atores que estão ótimos são Brie Larson, uma protagonista minimamente interessante, John Goodman que faz um pesquisador fascinado e John C. Reilly (não posso falar muito dele aqui para não revelar surpresas da trama, mas ele rouba o filme).

O grande problema de Kong: A Ilha da Caveira é uma quantidade considerável de personagens inúteis. O exemplo máximo é San, a personagem de Tian Jing, que mal fala o filme todo, mesmo sendo uma bióloga numa ilha com animais nunca antes vistos pela humanidade. O segundo ato do filme é um tanto parado e sem muita aparição de Kong. Mesmo assim somos servidos de alguns monstros gigantes e cenas belas.

Tudo é finalizado com uma luta verdadeiramente épica que empolga. Kong está um tanto humanizado (visualmente falando), mas faz parte da proposta e da história que está sendo contada. A atitude em si está até mais animalesca e sem tentativas de criar “o animal gigantesco, porém dócil” que alguns outros longas trabalharam. No fim das contas, o filme oficializa o universo compartilhado dos monstros gigantes que se passa na mesma realidade do filme do Godzilla de 2014. 

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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