O grupo Monty Python já trabalhava na televisão britânica, mais especificamente na emissora BBC, desde a época da TV preto e branco. Já no início do grupo o humor sem sentido que estica os limites de uma piada já era usado. Brincar com o estilo de vida inglês e levá-lo ao ridículo também era sua marca registrada. Seu sucesso foi crescendo de forma exponencial e passaram por vários formatos até que seu talento não cabia mais na telinha e decidiram invadir o cinema, assim surgiu “Monty Python em busca do cálice sagrado”.

Assim como nos programas de TV, o formato do filme é de esquetes e o que une as cenas é uma temática básica: Rei Arthur e seus cavaleiros em busca do santo Graal. Como fã incondicional da lenda do rei Arthur acho muito divertido um filme que faz piada com tudo isso, e, como amante de história, adoro um filme que consegue fazer piada com algo tão específico quanto a alta idade média.  Aliás essa é a magia deste grupo de comédia, num mesmo filme eles conseguem fazer todos os tipos de humor.

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Humor político: a discussão de um camponês e rei Arthur sobre os sistemas políticos e a opressão dos mesmos; humor histórico: a discussão científica de qual é a forma mais eficiente de se descobrir se uma mulher é uma bruxa; humor sem sentido: um cavaleiro que perde todos os seus membros e continua a lutar; humor adolescente: um cavaleiro que fez voto de castidade e acaba caindo num castelo cheio de mulheres lindas que desejam sexo.

Acredito que o humor deste filme é um pouco mais difícil de engolir e demanda muita atenção, diferente de uma comédia mais padrão que tem pequenas piadas de tempos em tempos. Esse filme faz piadas longas justamente para testar o telespectador, é uma relação de desafio entre a comédia e aquele que está em contato com ela, discrepante de um humor padrão que tenta agradar o espectador o tempo todo. Em Monty Python é necessário entrar no ritmo complexo que eles estabelecem, que já começa nos créditos completamente anárquicos.

Acredito que “Monty Python em busca do cálice sagrado” pode despertar o interesse daqueles que buscam a comédia de alto nível e algo um pouco mais diferente. Além dos outros filmes, existem os programas de TV, ou seja, muito material do grupo para ser apreciado. Outra coisa interessante de visitar esses gênios é entender como diversos outros comediantes e grupos se inspiram no Monty Python. Assisti-los é como estudar a árvore genealógica da comédia. Se você só conhece a comédia atual e duvida de toda a importância desses ingleses, eu lhe digo: no dicionário britânico o termo “paytonesco” se tornou adjetivo para algo que não faz o menor sentido.

Agora um último parágrafo para aqueles que já assistiram essa obra prima. Para aqueles que se atormentaram com a pergunta que está no título deste texto durante anos e jamais souberam a resposta. Pois bem, aqui está a resposta. Não precisa agradecer.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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