Em 2017 tivemos uma adaptação de um dos livros mais famosos de Agatha Christie, O Assassinato no Expresso do Oriente, com atuação e direção de Kenneth Branagh. O longa foi bem sucedido em diversos aspectos, e já prometia uma continuação em seu final. A autora tem uma série de livros onde seu icônico detetive Hercule Poirot (interpretado por Branagh) visita locações diferenciadas e sempre acaba esbarrando em algum crime que somente ele pode resolver. E justamente essa é a premissa da continuação Morte no Nilo, com o mesmo diretor e ator principal.

Assim como o filme anterior, temos um elenco de peso com nomes como Letitia Wright, Gal Gadot e Annette Bening. De modo geral todas as atuações são bem consistentes. O filme se esforça em apresentar uma fotografia elegante que passe o glamour do Egito dos anos 30 e da elite econômica que acompanhamos ao longo da história. Nesse aspecto, o filme é bem sucedido, principalmente na área de figurino e locações físicas. Quando os personagens estão em paisagens naturais a coisa toda fica com mais cara de fundo feito com tela verde, gerando uma sensação artificial em dados momentos.

Mas, como a maioria das adaptações de livros da Agatha Christie, o foco principal está no roteiro e quão bem ele executa o mistério. O roteirista responsável pela adaptação foi Michael Green, que tem um currículo com ótimos acertos e alguns erros. No time dos acertos temos Logan, Blade Runner 2049 e o próprio Expresso do Oriente. Nos erros temos Lanterna Verde e Alien Covenent. Felizmente esse é mais um de seus acertos.

Aqui Michael Green repete mais um artifício bem sucedido que é adicionar subplots que não estão no livro original, mas que se conectam muito bem a trama principal. Ele também coloca em evidência questões sociais que não aparecem na obra original, mas que existiam na época em que o filme se passa, deixando a coisa com um ar levemente mais realista. Outra decisão interessante foi de dar um tema geral para o filme, que aqui foi o amor, e o que estamos dispostos a fazer para lutar por ele. Isso acaba costurando a trama geral e dando uma unidade para todas as micro-histórias dos envolvidos.

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Mas esse não é um roteiro sem falhas. Na verdade, ele demora muito para engrenar, onde a primeira metade inteira é somente uma longa preparação para a segunda metade, onde a investigação realmente começa. Não que essa preparação não seja necessária, mas algumas cenas são demasiadamente esticadas sem necessidade, além de faltar diálogos verdadeiramente interessantes, apesar de eles existirem na segunda metade do filme. É preciso certa paciência para ver a trama ganhar corpo.

Acredito que para aqueles que nunca leram o livro será uma grande experiência ver o filme. Ele é bem fiel no estilo arrojado, charmoso e tenso das obras de Agatha Christie. O mistério principal e sua resolução segue a linha do livro, sendo bem fiel nesse aspecto. As invenções do filme são bem vindas, principalmente para uma história que já foi adaptada antes e levando em conta que Hercule Poirot já teve várias encarnações. É divertido ver as diferentes interpretações e estilos que diferentes artistas podem dar ao personagem e suas aventuras. E este filme é um ótimo exemplo disso.

Morte no Nilo

8.0 Bom!!
  • Nota 8
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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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