Desde a estreia do filme live action da Mulher Maravilha a personagem vem ganhando cada vez mais popularidade. Ao mesmo tempo a DC vem lançando animações de longa metragem direto para vídeo com uma regularidade impressionante, a ponto de quase todo mês haver uma para se assistir. Era de se esperar que logo a Mulher Maravilha ganharia seu longa animado, e na verdade isso demorou muito para acontecer. A última vez que isso aconteceu foi em 2009.

A trama se dá com a relação da Mulher Maravilha com sua família adotiva e como ela acaba virando um drama que coloca o mundo em perigo e gera uma nova vilã mortal diretamente relacionada com a culpa da heroína.

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O nível de qualidade dessas animações varia bastante podendo ser de muito bom até um completo desastre. O que temos aqui é um potencial muito bom para um grande filme que é completamente estragado por um roteiro escrito sem carinho nenhum e feito de uma forma preguiçosa. É fato que esse tipo de produção é feito um tanto a toque de caixa, mas ainda sim já mostrou seu potencial em diversos momentos, além de se propor a adaptar os maiores clássicos da editora. Nesse caso o que temos aqui é uma boa ideia pessimamente executada.

O maior problema reside no primeiro ato que se propõe a contar a origem da personagem e sua relação com essa família que lhe acolhe no mundo dos homens. Em vinte minutos espremem toda a mitologia da ilha paraíso, a relação com Steve Trevor e essa nova família se formando e terminando com direito a saltos no tempo. O erro já nasce na ideia de que era necessário recontar a origem da heroína, sendo que realmente não havia nenhum porquê. Em vez de se focar nessa família, que é onde o centro emocional do filme se baseia, temos uma série de montagens que supostamente deveriam construir relação entre os personagens.

Vale lembrar que essa família é composta por Julia Kapatelis e sua mãe, uma famosa arqueóloga que deseja aprender a verdade sobre os mitos gregos. Ambas as personagens surgiram na fase mais icônica da heroína que foi encabeçada por Geroge Peréz, o responsável por reformular a Mulher Maravilha depois do primeiro reboot da editora. Nos quadrinhos elas funcionavam de forma maravilhosa como elenco de apoio e tinham momentos emocionais verdadeiros e tocantes. Nesta animação as coisas são diferentes. Bem diferentes.

A personagem de Julia é uma adolescente que aprende a crescer com sua rigorosa mãe e uma semideusa em sua casa. Isso por vezes gera conflitos, mas por algum motivo esse filme acha que isso se traduz em usar roupas góticas e falar coisas como “blablabla não se meta na minha vida mãe. Você não entende”. Há muito tempo que não via uma personagem escrita de forma tão genérica, clichê e preguiçosa. Isso acaba se tornando um problema fatal para a história já que ela reside nessas relações familiares, tendo seu tema central a relação mãe e filha. Os saltos na cronologia para avançar a história só pioram o que já é ruim.

Apesar de tudo que falei esse filme tem suas qualidades. Existem ótimas cenas de ação e quando a trama se encaminha para a aventura de super-herói a coisa melhora. Também temos diversas vilãs clássicas da heroína e é bem divertido ver como todas elas aparecem ao longo da trama. O terceiro ato fecha com uma grande batalha épica que entretém bastante, com alguns acontecimentos levemente interessantes.

Mas logo uma coisa bizarra acontece. Até o momento tento me lembrar se já vi isso em algum lugar antes, mas acho que não. Esse filme coloca uma cena fundamental para a conclusão para a trama no pós-créditos. Não estou falando de uma cena que deixa um gancho para uma continuação, mas sim de algo que soluciona um dos mistérios da trama. Isso prova o quanto os criadores estão presos numa fórmula que nem sequer entendem. O mais chocante é pensar que ninguém achou que isso seria uma má ideia antes de lançar o filme.

O que mais entristece é pensar que a base desse plot era realmente muito boa e teria dado um ótimo longa animado e quem sabe até um primeiro arco para uma série animada da personagem. Se estiver procurando uma animação da Mulher Maravilha é melhor conferir a de 2009, mesmo que ela também não seja lá grande coisas. Melhor ficar com o live action mais recente e até mesmo a série clássica estrelada por Lynda Carter.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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