Muito se falou recentemente sobre uma nova Mulher-Maravilha chamada Yara Flor, que seria brasileira e publicada pela DC Comics. Finalmente a tal publicação saiu, mas para os desavisados vamos dar um pouco de contexto. A editora passou por uma grande saga chamada Dark Metal que chegou ao fim recentemente e como consequência gerou um novo multiverso na DC. Agora temos uma nova linha chamada Future State onde teremos versões diferentes dos clássicos personagens da Liga da Justiça e derivados. E dentre essas novas publicações, desse novo universo, temos a Mulher-Maravilha brasileira.

Tanto o roteiro quanto a arte são assinados por Joëlle Jones, que tem um trabalho longo no título da Mulher-Gato e passagens na revista mensal do Batman. Em termos visuais ela é simplesmente genial. Numa mesma página temos figuras realistas e heroicas contracenando com personagens no estilo cartoon e monstros gigantes. As cores de Jordie Bellaire também auxiliam muito e dão um visual completamente distinto e que salta os olhos. Nessa área gráfica e visual não existem defeitos a serem apontados.

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No caso do roteiro temos o início de algumas ideias interessantes, mas a verdade é que pouca coisa acontece. Temos uma apresentação bem básica da personagem, sua personalidade, capacidades e o início da apresentação de como esse novo mundo funciona. Existe bastante humor ao longo das páginas, principalmente nos contextos dos personagens mágicos interagindo.

Mas e ser brasileira? Como isso é tratado no gibi? Aqui as coisas começam a ficar interessantes.  Temos muita mistura de mitologia grega clássica com folclore brasileiro. As caixas de narração até possuem a seguinte frase “Há muito tempo atrás, em lados opostos do globo, os deuses do trovão Zeus e Tupã sentavam em seus respectivos tronos”. Temos também nomes como boitatá sendo falado e Caipora como um personagem que também protagoniza essa edição. A trama em si se inicia na Amazônia enquanto Yara mata uma espécie de hidra com o auxilio de seu Pégaso.

Esse gibi me fez pensar que nós brasileiros deveríamos nos envergonhar. Desde que eu me entendo por gente vejo as pessoas falando como nosso folclore é patético e qualquer coisa saída dele merece ser relegada a histórias infantis de gostos duvidosos. É preciso vir uma americana fazer algo com nosso próprio folclore para nos mostrar o quanto nossa autoestima é ridiculamente baixa. Porque não somos nós produzindo bons quadrinhos de ação e aventura com nossa própria mitologia? Porque nos recusamos a consumir histórias de aventura, fantasia e outros gêneros com nossos próprios elementos nacionais? Porque material “nerd” brasileiro é sempre associado com baixa qualidade?

Essa primeira edição de Mulher Maravilha é muito boa e um tapa na cara para nós brasileiros, pois era para esse tipo de história estar sendo publicada aqui e por artistas brasileiros. Precisava vir uma americana mostrar para a gente o que fazer com nossas próprias histórias? Pelo visto sim, pois é exatamente isso que aconteceu nesse gibi.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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