Stephen King é um autor complicado de se acompanhar, pois sua produção é tão intensa que fica até difícil ter um vasto conhecimento sobre boa parte de sua obra. Fazer um filtro do que realmente vale ser lido se torna uma tarefa difícil, já que além de termos muitos bons livros, alguns passam despercebidos. Parece que sempre está faltando “aquele livro”. Apesar de a obra ter sido adaptada para uma minissérie intitulada 11.22.63, o livro sobre viagem do tempo não fez um grande sucesso no mundo pop como Torre Negra, It e outras adaptações recentes. Mas Novembro de 63 é realmente uma das publicações de King que merece seu tempo?

Jake Epping é um professor de inglês com uma vida frustrada. Vive um casamento que deu terrivelmente errado e a sensação de que seus anos foram desperdiçados. Tudo muda subitamente quando o dono da lanchonete onde ele sempre almoça revela que, embaixo de seu estabelecimento, existe uma fenda temporal. Al, o cozinheiro, revela que voltou no tempo e tentou impedir a morte de Kennedy, mas agora está morrendo e deseja passar tal missão para Jake. O professor se vê diante da chance de recomeçar sua vida em outro tempo e, talvez, mudar o mundo.

 Existe certa fórmula perceptível quando se lê uma boa quantidade de livros do King. Entretanto, em vez de cansar, como acontece com muitos atores formulaicos, parece que ficamos viciados em seu estilo. Novembro de 63 é bem assim. O mesmo estilo de protagonista, a descrição intensa e a sensação de mergulhar na vida do outro. Nada melhor do que um ator fazendo o que ele mais sabe. De certa forma, ele lembra muito o já clássico Zona Morta, também do King. Um homem que sabe de um evento futuro e tenta impedí-lo.

 Então o que faz esse livro ser especial se ele, aparentemente, não trás nada de muito novo? A imersão que o livro proporciona na década de cinquenta é impressionante. Acompanhamos a jornada de Jake de forma tão próxima que é impossível não torcer por ele e ansiar pela próxima página. Em dado momento, não importa mais o que acontecerá com Kennedy, pois só queremos saber da vida pessoal de Jake. É criada uma série de subplots que acabam sendo mais interessantes do que a trama principal. Os personagens são tão vivos que quando o livro acaba, parece que estamos nos despedindo de pessoas que adoramos ao longo de nossa vivência.

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O único defeito que ele possui é a finalização, mas talvez, seja porque o livro é tão gostoso que não dá vontade de acabar. O próprio King já disse ter esse problema. Ele gostaria que alguns de seus livros fossem eternos e acho que isso acontece com este. O final é dado de forma meio rápida e simples, quase como se o autor o fizesse a contragosto. Por outro lado, temos um conceito de viagem no tempo bem delimitado que acaba gerando plots extremamente interessantes e trazem frescor para o batido tema que esse livro trata.

 Novembro de 63 é o típico livro de King e este é parte do seu triunfo. É a chance de viver outra vida, viajar para outra década e embarcar numa aventura cheia de sentimento. Para os fãs do autor, é uma leitura obrigatória. Mais uma de tantas. Para quem nunca leu nada dele, talvez seja um excelente começo, que foge dos títulos óbvios. Para quem já conhece o estilo e não é um grande fã, é melhor ir procurar outra coisa.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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