O Lar das Crianças Peculiares pode até dar uma boa e divertida sessão no Tela Quente, mas a falta de ambição de acrescentar algo mais relevante à trama é o ponto chave para torná-lo um filme mediano.
Com a direção do icônico Tim Burton, O Lar das Crianças Peculiares adapta a obra literária O Orfanato da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares do autor americano Ransom Riggs. Assim como o livro, o filme conta a história de um menino que, depois de uma tragédia familiar terrível, segue pistas que o levam a um orfanato abandonado em uma ilha galesa. E assim as descobertas e a aventura começa.
Com uma excelente fotografia, em alguns momentos vibrantes, contrastando com o tom cinza característico de Tim Burton, o filme agrada por aventurar o espectador em um mundo ainda desconhecido, misterioso e com fendas temporais. Sim, fendas temporais! Apesar de não desenvolver grandes questões sobre viagem no tempo em si, uma dessas fendas faz com que o nosso protagonista Jake (Asa Butterfield) volte ao ano de 1943 e conheça o orfanato que há muito fora deixado por seu avó.
O orfanato da Srta. Peregrine (Eva Green) como o próprio título do longa diz, não é um orfanato comum, é para crianças peculiares. E peculiares entenda como crianças com poderes especiais, super-poderes ou/e alguns poderes bizarros que ainda não sabemos do porquê ou a origem deles, o que deixa a trama mais interessante com a descoberta dos atributos de cada um, numa espécie de filme de origem de super-herói.
Percebe-se que Riggs teve várias influências para a concepção da obra e a mais clara e evidente é a de X-Men. Não só pelos jovens peculiares do orfanato que são uma versão dos mutantes na mansão do Xavier, mas também pela Srta. Peregrine que também é uma alterativa clara ao Professor X como líder e grande tutora da casa. Porém as semelhanças do filme vão se afastando não só dos X-Men mas também do livro adaptado, Já que questões e dramas pessoais que são explorados na obra, como a guerra, o alcoolismo, entre outras coisas são deixadas de lado para explorar mais o lado aventureiro que a história possibilita, o que não é do feitio de Burton.
E falando em Tim Burton, muita expectativa fora criada para sua direção nesta obra. Todos diziam ter a sua cara, com grandes possibilidades de deixar suas marcas góticas e excêntricas na adaptação. Porém vimos pouco de seus toques característicos, deixando O Lar das Crianças Peculiares somente como mais um filme infanto-juvenil comercial adaptado de um livro de sucesso.
Grande parte dessa decepção está nos antagonistas, que foram adicionados especialmente para o produção cinematógrafica. Não só pela polêmica do único negro do elenco ser o vilão, mas também pela relevância e comportamento desse vilão na história: altamente afetado e visualmente parecido com alguns personagens de Tim Burton, como o Cavaleiro Sem Cabeça, só que negro desta vez.