Quando as bases são frágeis não importa o tamanho do castelo, ele ruirá. Com esta premissa, Os Olhos de Tammy Faye acompanha a jornada de altos e baixos do casal Jim Bakker e Tammy Faye entre os anos 70 e 90, onde, juntos, ergueram um gigante canal gospel nos EUA à base de promessas de riqueza para os fiéis que doavam dinheiro para realizar obras de “Cristo”. E da mesma altura que subiram, caíram vertiginosamente com polêmicas e escândalos. O filme conta com atuação incrível de Jessica Chastain (que ganhou o Oscar de Melhor Atriz, inclusive), mas se abstém em pontos importantes da relação famíliar do casal.

Tammy Faye (Jessica Chastain) e seu marido Jim Bakker (Andrew Garfield) cresceram em uma realidade humilde, até criarem a maior rede de difusão religiosa da TV norte-americana. O casal começou a fazer sucesso nas décadas de 70 e 80, conquistando o público com mensagens de amor e prosperidade. A voz carismática de Tammy Faye marcou gerações através do rádio e da televisão, até que um grupo rival tentou derrubar o império do casal tele-evangelista. A partir desse momento, as suas vidas mudaram para sempre.

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Tammy era reconhecida por sua beleza extravagante, seus olhos de maquiagem bem marcada, sua forma singular de cantar e seu jeito com as pessoas. Porém acredito que o ponto mais significativo de sua vida para o filme é a relação entre sua ingenuidade versus sua busca por espaço. Sua ingenuidade a levou a acreditar nas palavras de Jim quando ainda eram jovens, de acreditar em suas obras, de não desconfiar de suas riquezas e não suspeitar da fidelidade. Por outro lado Tammy não gostava de ser deixada de lado tanto nos negócios quanto nas apresentações, estava atrás de seu espaço e com suas próprias opiniões, inclusive sobre aceitação, em um mundo gospel machista, recatado e julgador.

A produção é um grande ponto positivo do longa. A direção de arte faz um bom trabalho no geral, inclusive Os Olhos de Tammy Faye ganhou mais uma estatueta na noite do Oscar por Melhor Maquiagem e Penteado. A direção ficou por conta de Michael Showalter que faz um bom trabalho em contar a história do casal de uma forma dinâmica e com transições de tempo e de tecnologia (de imagem) interessantes. Porém sente-se falta de mais aprofundamento do roteiro, escrito por Abe Sylvia, na vida familiar de Jim e Tammy. A relação deles com os filhos principalmente. Já que Tammy tivera um relacionamento complicado com sua mãe, esperava-se observar como ela refletiu ou ressignificou isso quando ela se tornou mãe (tanto para o bem quanto para o mal). Mas o filme a partir de certo ponto se abstém do lado humano da cinebiografia para se concentrar mais nos escândalos públicos e polêmicas.

O filme também retrata um pouco do mundo gospel que na época ainda tentava se infiltrar cada vez mais na programação da TV. E como o que seria uma estratégia para espalhar a “Palavra Cristã” se tornou um grande negócio lucrativo. Qualquer semelhança com o que vemos nas TVs aqui no Brasil atualmente não é mera coincidência. Sem falar explicitamente, mas dando a entender, Os Olhos de Tammy Faye mostra o corrompimento dentro da TV Gospel e a disputa por poder e confrontos de egos que acontecem dentro dos ministérios ou de uma denominação. Em certo ponto o próprio Jim se pergunta se ele estava realmente prometendo a salvação somente àquele que doava o dízimo. E sabemos que é uma prática muito comum não só nas TVs Gospel que temos por aqui, como também nas próprias congregações, igrejas, etc.

Por fim, Os Olhos de Tammy Faye consegue contar uma boa história, exigir uma boa atuação de seu elenco e tematizar sobre o negócio gospel e a relação de um casal que com o tempo se torna falido. É uma boa pedida para os que gostam de cinebiografias, com um plus de ter ainda uma atuação soberba de Jessica Chastain.

Os Olhos de Tammy Faye

7.5 Bom!
  • Nota 7.5
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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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