Em 2017 a Mulher Maravilha esteve em uma evidência incrível, coisa que a personagem não experimentava desde a exibição do seu seriado com Lynda Carter. Muito se discute sobre sua verdadeira representação do feminino, e devido à história complexa de sua origem muitas lendas e mitos urbanos surgem. Já vi gente falando que a heroína teria surgido como uma crítica ao feminismo radical e até mesmo como uma chacota do público feminino, outros insistem em dizer que ela era um símbolo do anti-americanismo. Talvez este filme seja ideal para as pessoas que inventam esses mitos e para os desinformados que repetem tais histórias.

O filme conta a história do psicólogo William Moulton e seu relacionamento com suas duas esposas e como tal estilo de vida o inspirou na criação da personagem Mulher Maravilha. O filme vai desde suas teorias sobre o comportamento humano a até o lado mais pessoal possível de sua vida.

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Apesar de Marston levar o seu nome no título, o filme é muito bem divido entre os três elementos que compõem esse relacionamento de “poliamor”. Além de ser uma cinebiografia ele é uma grande história de amor destas três pessoas que precisam viver entre os preconceitos de uma sociedade da primeira metade do século XX. Marston é interpretado por Luke Evans que ficou famoso com a trilogia Hobbit e sua ótima atuação do Gaston em A Bela e a Fera. Seu trabalho como o psicólogo quadrinista é bem preciso e cheio de emoção na medida certa. Rebecca Hall faz a esposa de Marston, e talvez o papel mais complicado deste roteiro. Elizabeth Marston é uma mulher extremamente inteligente, de personalidade forte e por vezes de arrogância gritante. Em dados momentos é até difícil gostar da personagem e Hall tem o difícil papel de fazer uma personagem que anda na corda bamba entre co-protagonista e pseudo-antagonista. Bella Heathcote faz Olive, a mulher que adentrou no casamento dos dois e tem um papel mais simples de mulher amável, simpática e até simples.

Tanto o roteiro quanto a direção são assinadas por Angela Robinson que nunca havia feito um trabalho verdadeiramente relevante (a não ser que você considere Herbie: Meu Fusca Turbinado como algo relevante). Aqui ela faz um roteiro quase impecável. Consegue pegar com todos os detalhes os elementos que formaram a mitologia da Mulher Maravilha e os insere ao longo da vida de Marston, mostrando de forma bem didática todas as experiências que levaram aquele homem à ideia da personagem e os seus simbolismos. Consegue tratar a questão do poliamor com cuidado e sensibilidade, além de tratar conceitos da psicologia, inserindo-os com bastante facilidade na trama. Isso sem falar na ótima pesquisa histórica tanto na vida de Marston quanto a própria histórias em quadrinhos.

Como estamos falando da origem da Mulher Maravilha logo é necessário falar sobre sadomasoquismo e sexualidade. Um dos melhores pontos de Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas é que ele consegue explicar todo esse lado que sempre foi um tabu na origem da heroína. É fato concreto de que Marston colocou muito das suas experiências sadomasoquistas na personagem, mas este filme explica com muito cuidado o porquê de ele ter feito isso. Na verdade o filme como um todo possui uma temática sexual bem evidente, apesar de não ser sensual ou sexy. Ele mais fala e discute o assunto do que efetivamente o mostra. Só existe um fator nesta pesquisa histórica que falhou: o filme ignora completamente os desenhistas que ajudaram a dar vida aos primeiros quadrinhos da Mulher Maravilha. 

Não digo que o roteiro de Angela Robinson é impecável, pois ele possui um final meio abrupto e alguns pontos não são efetivamente explicados, o que gera um leve estranhamento nas últimas cenas. A direção de Angela é formulaica na maior parte do tempo e pouco ousa ao longo da narrativa. E em dados momentos estica algumas cenas, com o auxílio da música, o que deixa o ritmo do filme um pouco mais lento. A história da criação da Mulher Maravilha é naturalmente fascinante e Angela foi totalmente bem sucedida em contar essa história sobre psicologia, quadrinhos, sadomasoquismo e, principalmente, amor.

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Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas

Nota

 

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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